Qual a carga global de câncer atribuída ao uso de álcool? Artigo de Ramgay et. al. publicado 13 de julho no Lancet Oncology apresenta estimativas globais e regionais da carga de câncer associada ao consumo de álcool em 2020 para subsidiar políticas de controle do câncer em diferentes cenários. Os resultados estão em acesso aberto e mostram que tumores de esôfago, fígado e mama aparecem globalmente como os mais associados ao etilismo. “Não há dúvida que o álcool é cancerígeno e é um problema de saúde pública mundial. Como oncologistas, temos que orientar nossos pacientes e enfatizar que aqueles que desejam ingerir bebidas alcoólicas, devem fazê-lo o mínimo possível”, observa o oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), diretor médico geral da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O uso de álcool é associado a vários tipos de câncer. Neste estudo de base populacional, os autores descrevem que as frações atribuíveis à população (PAFs) foram calculadas usando uma exposição teórica de risco mínimo de abstenção ao longo da vida e estimativas de consumo de álcool de 2010 do Sistema de Informação Global sobre Álcool e Saúde (assumindo um período de latência de 10 anos entre o consumo de álcool e o diagnóstico de câncer). Esses dados foram combinados com as correspondentes estimativas de risco relativo de revisões sistemáticas da literatura, como parte do projeto de atualização contínua da World Cancer Research Fund International, e as PAFs também levaram em conta os dados de incidência de câncer do GLOBOCAN 2020 para estimar novos casos de câncer atribuíveis ao álcool. Ramgay e colegas também calcularam a contribuição do consumo moderado (<20 g por dia), consumo de risco (20-60 g por dia) e consumo pesado (> 60 g por dia) para a carga total de câncer atribuível ao álcool, assim como a contribuição de um incremento de 10 g por dia (até um máximo de 150 g).
Resultados
Os resultados mostram que cerca de 741.300 novos casos de câncer foram globalmente atribuíveis ao consumo de álcool em 2020, o equivalente a 4,1% (3,1–5,3) de todos os novos casos de câncer.
Os homens foram responsáveis por 568.700 (76,7%; 95% UI 422 500-731 100) do total de casos de câncer atribuíveis ao álcool. Os tumores de esôfago (189 700 casos [110 900-274 600]), fígado (154 700 casos [43 700–281 500]) e mama (98 300 casos [68 200–130 500]) contribuíram com a maioria dos casos.
Os resultados reportados agora no Lancet Oncology mostram que as PAFs foram mais baixas no norte da África (0,3% [95% UI 0,1–3,3]) e na Ásia Ocidental (0,7% [0,5–1,2]). Inversamente, foram mais altas na Ásia Oriental (5,7% [3, 6–7, 9]) e Europa Central e Oriental (5, 6% [4,6–6,6]).
A maior carga de câncer atribuível ao álcool foi representada pelo consumo excessivo, com 346.400 casos (46,7%), e pelo consumo de risco, com 291.800 casos [39,4%). O consumo moderado de álcool contribuiu com 103 100 casos, o equivalente a 13,9% do total estimado. Beber até 10 g por dia contribuiu com 41.300 casos, aponta a análise.
“Nossos resultados destacam a necessidade de políticas e intervenções eficazes para aumentar a conscientização sobre os riscos de câncer associados ao uso de álcool e diminuir o consumo geral para prevenir a carga de cânceres atribuíveis ao álcool”, concluem os autores.
Referência: Global burden of cancer in 2020 attributable to alcohol consumption: a population-based study - Harriet Rumgay, BSc; Kevin Shield, PhD; Hadrien Charvat, PhD; Pietro Ferrari, PhD; Bundit Sornpaisarn, PhD; Prof Isidore Obot, PhD et al. - Published: July 13, 2021 - DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00279-5