A brasileira Patrícia Ashton-Prolla (foto) é autora sênior de estudo que buscou caracterizar a prevalência de variantes patogênicas de linhagem germinativa entre latino-americanos e hispânicos nos EUA submetidos a testes para câncer hereditário de mama e ovário (HBOC). Os resultados publicados no JCO Global Oncology destacam a importância do teste de painel multigênico em pacientes latino-americanos com diagnóstico recente ou histórico de câncer de mama ou ovário, grupo que pode se beneficiar de mudanças no manejo médico, incluindo terapias-alvo e cirurgias de redução de risco, além de ações de vigilância e prevenção que envolvem aconselhamento genético e testes em cascata para familiares em risco.
Neste estudo transversal, foram incluídos indivíduos não relacionados com histórico pessoal/familiar sugestivo de HBOC, testados com um painel de múltiplos genes de predisposição ao câncer de linhagem germinativa. Os pacientes elegíveis foram agrupados de acordo com a localização do médico solicitante: grupo A, México, América Central e Caribe; grupo B, América do Sul; e grupo C, Estados Unidos sendo incluídos neste último grupo apenas indivíduos que se autodeclararam hispânicos. Os familiares que realizaram o teste em cascata foram analisados separadamente.
Entre 24.075 probandos não relacionados em todas as regiões, os autores descrevem que a maioria foi do sexo feminino (94,9%) e relatou história pessoal sugestiva de HBOC (variação, 65,0%-80,6%), com mediana de idade de 49,1 ± 13,1 anos no momento do teste. O número médio de genes analisados por paciente foi maior no grupo A (A 63 ± 28, B 56 ± 29 e C 40 ± 28). Entre 9,1% e 18,7% dos pacientes apresentaram variantes germinativas patogênicas nos genes HBOC (maior rendimento no grupo A), sendo a maioria destas alterações associada a alto risco de HBOC. Comparado com indivíduos hispânicos dos EUA, o rendimento geral foi significativamente maior em ambas as regiões da América Latina (A v C; p = 1,64×10–9, B v C; p < 2,2×10–16). As taxas de variantes de significância incerta foram semelhantes em todas as três regiões (33,7%-42,6%). A realização do teste em cascata de familiares após identificação de um caso positivo foi baixa em todas as regiões (A 6,6%, B 4,5% e C 1,9%).
“Este estudo destaca a importância do teste de painel multigênico em indivíduos latino-americanos com diagnóstico recente de câncer ou histórico de HBOC, que podem se beneficiar de mudanças no manejo médico, incluindo terapias-alvo e cirurgias de redução de risco, além de ações de vigilância e prevenção que envolvem aconselhamento genético e testes em cascata para familiares em risco”, concluem os autores.
Em síntese, o estudo mostra que variantes germinativas em genes que aumentam o risco de câncer de mama e ovário foram identificadas em 18,7% dos indivíduos testados no México, América Central e Caribe e em 13,8% dos indivíduos testados na América do Sul. As variantes germinativas em BRCA1 e BRCA2 foram as mais comuns, chegando a mais de 70% das variantes identificadas no grupo A. No entanto, variantes germinativas em outros genes de alta penetrância e genes de moderada penetrância foram identificados, corroborando a necessidade do uso de painéis multigênicos na investigação genética. Por fim, as taxas de variantes de significado incerto foram semelhantes em todas as regiões e, quando evidências adicionais estavam disponíveis, > 90% delas foram reclassificadas em benignas ou provavelmente benignas.
A análise também revela que a taxa de realização do teste em cascata de familiares após identificação de um indivíduo com variante patogênica germinativa foi inferior a 10% em todos os grupos analisados. “Esse resultado é particularmente alarmante considerando que o teste da variante familiar foi disponibilizado aos familiares de pacientes com variante patogênica sem custo adicional”, explica Patrícia. “O teste em cascata de familiares de um indivíduo com diagnóstico molecular de câncer hereditário é uma das ferramentas mais importantes para prevenção de câncer em famílias de alto risco. O estudo demonstra que há um caminho importante a ser percorrido, através do aconselhamento genético pós-teste, para que um número maior de familiares em risco possa se beneficiar desta estratégia”, conclui a pesquisadora brasileira.
Além de Patrícia Ashton-Prolla, do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, o estudo tem a participação da brasileira Maria Isabel Achatz, do Departamento de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em Brasília.
Referência: Ossa Gomez CA, Achatz MI, Hurtado M, Sanabria-Salas MC, Sullcahuaman Y, Chávarri-Guerra Y, Dutil J, Nielsen SM, Esplin ED, Michalski ST, Bristow SL, Hatchell KE, Nussbaum RL, Pineda-Alvarez DE, Ashton-Prolla P. Germline Pathogenic Variant Prevalence Among Latin American and US Hispanic Individuals Undergoing Testing for Hereditary Breast and Ovarian Cancer: A Cross-Sectional Study. JCO Glob Oncol. 2022 Jul;8:e2200104. doi: 10.1200/GO.22.00104. PMID: 35867948.