Seis prioridades estratégicas foram recomendadas pelo Independent Cancer Taskforce britânico para implementar melhorias substanciais no tratamento de câncer do sistema público de saúde inglês. Entre os principais focos estão prevenção, diagnóstico precoce, valorização da experiência do paciente, com apoio durante e após o tratamento, investimentos em tecnologia, além da criação de um Fundo de Medicamentos contra o Câncer e mudanças nos processos de gestão.
Segundo o relatório britânico, 30 mil pacientes de câncer a cada ano podem sobreviver por 10 anos ou mais com as novas medidas, sendo 11 mil deles através do diagnóstico precoce.
No Reino Unido, 280 mil pessoas foram diagnosticadas com câncer em 2013/14, número que deve aumentar para mais de 300 mil em 2020, e superar os 360 mil em 2030. Este crescimento nos números de câncer, impulsionado em grande parte pelo envelhecimento da população, faz com que os serviços de câncer do Reino Unido estejam sob uma pressão sem precedentes.
Com as taxas de sobrevida em elevação, mais pessoas vivem com câncer, e por isso o relatório também apresenta propostas de como auxiliar o paciente com a experiência de adoecimento, durante e após o tratamento.
O Independent Cancer Taskforce foi criado em janeiro de 2015 para ajudar a desenvolver uma estratégia de cinco anos para a assistência e prevenção do câncer na Inglaterra.
Prioridades estratégicas
O relatório inglês recomenda ênfase na prevenção e descreve como o Sistema Nacional de Saúde (NHS) deve trabalhar para melhorar a saúde pública, incluindo a adoção de uma nova estratégia de controle do tabaco nos próximos 12 meses e um plano de ação nacional para conter a obesidade. A expectativa do TaskForce é reduzir o tabagismo no Reino Unido, de 18,4% para menos de 13% até 2020.
Ênfase também no diagnóstico precoce. A meta do modelo britânico é que até 2020, 95% dos pacientes que se referem ao controle de um médico generalista tenham o câncer definitivamente diagnosticado ou descartado, com resultados no período máximo de um mês. Isso requer um aumento significativo da capacidade de diagnóstico, dando aos médicos generalistas acesso direto aos testes-chave de investigação. Atualmente, os pacientes com urgência encaminhados por suspeita de câncer precisam ser avaliados por um especialista em 14 dias após a referência, mas não existe nenhuma orientação sobre o tempo de espera dos resultados.
Experiência do paciente
O paciente deve estar a par da eficácia clínica e segurança do tratamento. Todos os pacientes devem ter acesso eletrônico aos resultados de testes e outras comunicações que envolvam cuidados adicionais, até 2020. Os pacientes também devem ter acesso a uma enfermeira clínica especializada ou outro profissional para ajudar a coordenar os seus cuidados. O Sistema Nacional de Saúde deve continuar a desenvolver e adotar instrumentos para medir a experiência de um paciente, incluindo a pesquisa anual Cancer Patient Experience Survey.
Para garantir o apoio ao paciente durante e após o tratamento o modelo inglês criou o 'Pacote de Recuperação' - um plano abrangente que descreve o tratamento, bem como os cuidados no seguimento pós-tratamento. Uma métrica nacional de qualidade de vida deve ser desenvolvida até 2017. Além disso, comissões criadas para organizar os serviços do sistema de saúde inglês segundo a nova lógica irão assegurar a assistência de cuidados de fim de vida adequados, de acordo com as diretrizes do NICE e do Choice Review.
Investimentos
Devem ser realizados investimentos para garantir a prestação de serviços modernos e de alta qualidade, o que inclui um plano de substituição das máquinas de radioterapia (aceleradores lineares), ao completarem dez anos de funcionamento. O plano também prevê a modernização dos aceleradores lineares existentes, a cada seis anos de funcionamento.
A criação de um modelo permanente e sustentável de um Fundo de Medicamentos contra o Câncer para ajudar os pacientes a terem acesso aos tratamentos inovadores também está contemplada no modelo inglês, além de serviços de diagnóstico molecular comissionados, distribuídos regionalmente para orientar na prevenção personalizada, screening e tratamento.
A proposta do relatório britânico é estabelecer a partir de 2016 uma rede de alianças de câncer em todo o país, que reunirá os principais parceiros locais, incluindo pacientes. Essas alianças usariam um painel de métricas para avaliar e apoiar o redesenho do serviço público de saúde. "Nós temos uma oportunidade para salvar do câncer milhares de vidas a cada ano. Estamos mais bem informados do que nunca sobre a melhor forma de prevenir, diagnosticar e tratar a doença, e como entregar ao paciente melhor qualidade de vida. Agora é necessário partir para a ação”, afirmou Harpal Kumar, presidente da Independent CancerTaskforce.
Segundo Duncan Selbie, chefe-executivo da Saúde Pública da Inglaterra, quatro em cada dez cânceres são evitáveis, e sem uma ação sobre fatores de risco como tabagismo, álcool e dieta, o câncer vai se espalhar ainda mais. “O Cancer Taskforce afirma com razão que precisamos de uma atualização radical na prevenção e saúde pública, e nós acolhemos com satisfação o relatório. Estamos ansiosos para considerar as recomendações, especialmente os planos de ação para reduzir o tabagismo e combater a obesidade, e concretizar o objetivo de uma sociedade que tenha um olhar sério sobre a questão da prevenção".
Referência: Achieving world-class cancer outcomes, a strategy for England 2015-2020