Diretriz elaborada pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) fornece estratégias para uma comunicação aberta e sem julgamento entre médicos e pacientes adultos com câncer sobre o uso de cannabis e/ou canabinoides. “Muitos oncologistas discutem cannabis medicinal e/ou canabinoides com os pacientes, mas poucos se sentem confortáveis para fazer recomendações clínicas”, observam os autores do guideline. O trabalho foi publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO).
As diretrizes têm como objetivo orientar médicos, pacientes adultos com câncer, cuidadores, pesquisadores e instituições oncológicas sobre o uso médico de cannabis e canabinoides, incluindo canabinoides sintéticos e derivados de cannabis herbais; canabinoides únicos e purificados; combinações de ingredientes de cannabis; e cannabis de espectro total.
Os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática da literatura para identificar revisões sistemáticas, ensaios clínicos randomizados (ECR) e estudos de coorte sobre a eficácia e segurança da cannabis e dos canabinoides quando usados por adultos com câncer. Os resultados de interesse incluíram efeitos antineoplásicos, toxicidade do tratamento do câncer, sintomas e qualidade de vida. A PubMed e a Biblioteca Cochrane foram pesquisadas desde o início da base de dados até 27 de janeiro de 2023, e um Painel de Especialistas foi convocado pela ASCO para revisar as evidências e formular recomendações.
A base de evidências consistiu em 13 revisões sistemáticas e cinco estudos primários adicionais (quatro ECRs e um estudo de coorte). A certeza da evidência para a maioria dos resultados foi baixa ou muito baixa.
De acordo com o guideline, os médicos devem recomendar contra o uso de cannabis ou canabinoides como tratamento direcionado ao câncer, a menos que esteja dentro do contexto de um ensaio clínico.
Cannabis e/ou canabinoides podem melhorar náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia quando adicionados a regimes antieméticos concordantes com as diretrizes. Os pesquisadores observam que ainda não se sabe se o seu uso pode contribuir para melhorar outros resultados de cuidados de suporte.
A diretriz também destaca a necessidade crítica de mais pesquisas sobre cannabis e/ou canabinoides. “O acesso à cannabis e aos canabinoides ultrapassou a ciência que apoia as indicações baseadas em evidências para o seu uso. Simultaneamente, a experiência anedótica entre adultos com câncer que utilizam cannabis e/ou canabinoides continua a promover fortes incentivos ao consumo, apesar da ausência de provas objetivas, criando desafios clínicos contínuos e oportunidades no tratamento de adultos com câncer. É fundamental abordar a falta de evidências clínicas de alta qualidade”, concluem os autores.
Mais informações, incluindo um suplemento com tabelas de evidências adicionais, conjuntos de slides, ferramentas e recursos clínicos, estão disponíveis em www.asco.org/supportive-care-guidelines.
Referência: Ilana M. Braun et al., Cannabis and Cannabinoids in Adults With Cancer: ASCO Guideline. JCO 0, JCO.23.02596. DOI:10.1200/JCO.23.02596