Estudo retrospectivo publicado na Therapeutic Advances in Medical Oncology buscou investigar fatores prognósticos e desfechos clinicos de sarcomas radioinduzidos, tumores que geralmente apresentam comportamento agressivo, e que devido à sua raridade, o manejo apropriado é incerto. Maurício Ribeiro (foto), oncologista no H. Lee Moffitt Cancer Center e ex-Clinical Research Fellow do Princess Margaret Cancer Centre, é o primeiro autor do trabalho.
Utilizando o banco de dados Canadian Sarcoma Research and Clinical Collaboration (CanSaRCC), um registro nacional de sarcoma, os pesquisadores avaliaram pacientes com sarcomas radioinduzidos (do inglês, RIS - radiation-induced sarcomas) tratados entre 1996 e 2021 em três centros canadenses.
Sarcoma radioinduzido foi definido como um sarcoma que surge em um campo previamente irradiado após um período de latência de mais de 3 anos, cuja histologia é distinta do tumor inicialmente irradiado. Informações clinicopatológicas e relacionadas ao tratamento foram extraídas do CanSaRCC.
A sobrevida global (SG) foi definida como o tempo desde o diagnóstico do sarcoma radioinduzido até a morte por qualquer causa. A taxa de resposta (RR) à quimioterapia neoadjuvante (NACT) foi baseada na avaliação do médico. As análises de tempo até o evento foram estimadas pelo método de Kaplan-Meier, com regressão de Cox para análise multivariada, considerando um valor p bicaudal <0,05 como estatisticamente significativo.
Resultados
Cento e sete tumores preencheram os critérios para sarcoma radioinduzido e foram divididos em três subgrupos: angiossarcoma de mama (n = 54), osteossarcoma (n = 16) e outros sarcomas de partes moles (n = 37). Os pacientes eram em sua maioria mulheres (n = 85, 79%), tratados inicialmente para carcinomas de mama (n = 54, 50,5%) e com diagnóstico de tumores de alto grau (n = 61/71, 86%).
Nenhum paciente apresentou evidência de metástase sincrônica. Os pacientes com osteossarcoma eram mais jovens (idade mediana: 48 anos, p < 0,001) e o angiossarcoma de mama teve o intervalo de latência mais curto (8 versus 18 anos para osteossarcoma/sarcomas de tecidos moles, p < 0,001). A maioria dos pacientes foi operada, 76% (n = 76/100) R0; 24% (n = 26) receberam radioterapia (n = 15; 57,7%), em sua maioria neoadjuvante. Entre aqueles que receberam quimioterapia, 30 (75%) foram submetidos a quimioterapia neoadjuvante. Entre os pacientes com avaliação de resposta documentada, o taxa de resposta foi de 68% (n = 17/25), sendo ainda maior na população com angiossarcoma de mama (89,5%, n = 13/17).
A mediana de sobrevida global foi de 53 meses (95% CI 34–101), com uma SG em 5 anos de 47,6%; tamanho maior do tumor, alto grau histológico e idade avançada foram fatores prognósticos independentes para pior sobrevida global.
Em síntese, os autores observaram que a cirurgia é padrão e a quimioterapia neoadjuvante pode ser útil para reduzir o tamanho de lesões grandes, especialmente em pacientes com angiossarcoma de mama. “Aumentar a sensibilizaçãoda comunidade oncologica para a existencia dos sarcomas radioinduzidos é fundamental para promover o manejo adequado e fomentar a investigação através de colaborações multi-institucionais”, concluíram.
Referência: Ribeiro, Maurício & Soroka, Hagit & Bhura, Zainab & Hirsch, Ian & Wunder, Jay & Ferguson, Peter & Tsoi, Kim & Brar, Savtaj & Gladdy, Rebecca & Swallow, Carol & Chung, Peter & Catton, Charles & Wong, Philip & Watson, Geoffrey & Abdul Razak, Albiruni & Gupta, Abha & Shultz, David. (2023). Clinico-demographic characteristics and outcomes of radiation-induced sarcomas (RIS): a CanSaRCC study. Therapeutic Advances in Medical Oncology. 15. 1-14. 10.1177/17588359231198943.