A oncologista brasileira Ana Veneziani (foto), Clinical Research Fellow no Princess Margaret Cancer Center, é primeira autora de artigo de revisão publicado na Nature Reviews Clinical Oncology que discute a heterogeneidade do câncer de ovário, apresentando o panorama atual do tratamento da doença e destacando estratégias terapêuticas potencialmente eficazes em desenvolvimento.
“O câncer de ovário é caracterizado por importante heterogeneidade nos níveis molecular, celular e anatômico, tanto espacial quanto temporalmente. Essa heterogeneidade impacta diretamente a eficácia da cirurgia e/ou terapia sistêmica, muitas vezes resultando em resistência inerente e adquirida aos medicamentos. Como resultado, esse tipo de câncer é frequentemente agressivo e fatal, destaca a publicação. Além disso, o carcinoma de ovário abrange diversos subtipos patológicos, cada um com cenários moleculares complexos e distintos que evoluem ao longo da progressão da doença e do tratamento. “As interações complexas entre as células cancerosas e o microambiente tumoral também exercem um papel crucial na evolução da doença e na resposta terapêutica”, observam.
As abordagens tradicionais de tratamento costumavam considerar o câncer de ovário como uma única entidade. No entanto, nas últimas décadas, os pesquisadores identificaram a diversidade celular, molecular, microambiental e imunológica dessa doença gradualmente transformando o cenário de tratamento. Esse reconhecimento levará ao desenvolvimento de abordagens personalizadas eficazes e, em alguns casos, até mesmo à modificação de características moleculares e celulares do tumor que levam a resistência a terapias subsequentes.
Segundo os autores, uma melhor compreensão das origens extra-ovarianas das lesões precursoras pode ajudar na detecção precoce e na prevenção do carcinoma do ovário.
No que diz respeito ao tratamento, o artigo enfatiza o papel da cirurgia de citorredução primária, que desempenha um papel crucial na redução da carga tumoral e no controle de tumores resistentes à quimioterapia. Além disso, destaca a importância da terapia de manutenção com inibidores da PARP após uma resposta bem-sucedida à quimioterapia à base de platina, tanto em cenários de primeira quanto de segunda linha, visando prolongar o período entre a resposta terapêutica e a recidiva da doença.
“A integração dos instrumentos de avaliação dos resultados relatados pelos pacientes no tratamento de rotina do câncer de ovário desempenha um papel fundamental na melhoria do manejo clínico”, concluem os autores.
O artigo de Ana Veneziani e seus colegas oferece uma visão abrangente da complexidade do câncer de ovário, bem como das perspectivas promissoras para o tratamento futuro.
Referência: Veneziani, A.C., Gonzalez-Ochoa, E., Alqaisi, H. et al. Heterogeneity and treatment landscape of ovarian carcinoma. Nat Rev Clin Oncol (2023). https://doi.org/10.1038/s41571-023-00819-1