Onconews - Causas de morte em ex-trabalhadores da indústria de cimento-amianto no estado de São Paulo

gisele fernandes bxEstudo brasileiro reforça evidências da associação causal entre a exposição ao amianto e o aumento da mortalidade por neoplasias pleurais malignas, câncer de pulmão e asbestose. Os resultados foram publicados no periódico American Journal of Industrial Medicine, em artigo que tem a epidemiologista Gisele Fernandes (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, como primeira autora.

Em países de baixa e média renda, como o Brasil, estudos sobre as causas de morte de trabalhadores expostos ao amianto são escassos. Esse estudo de coorte envolveu 988 homens que trabalharam na indústria de cimento-amianto no estado de São Paulo, com um total de 12.217 pessoas-ano de observação entre 1995 e 2016. A razão de mortalidade padronizada (SMR) por idade foi calculada como a razão entre a taxa mortalidade observada e a taxa mortalidade esperada no estado de São Paulo.

Resultados

A razão de mortalidade padronizada (SMR) aumentada foi observada para mortalidade geral (SMR 1,1, 95% [IC], 0,98-1,23), neoplasias pleurais malignas (MN) (SMR, 69,4; 95% IC, 22,55-162,1), asbestose (SMR, 975,7; 95% IC, 396,4-2031), neoplasia maligna peritoneal (SMR, 5,0; 95% IC, 0,13-27,78), neoplasia maligna de laringe (SMR, 1,4; 95% IC, 0,30-4,20) e neoplasia maligna pulmonar (SMR, 1,5; IC de 95%, 0,82-2,64).

“Nosso estudo destaca os danos causados ​​pela exposição ao amianto e reforça a evidência de uma associação causal entre a exposição a fibra e o aumento da mortalidade por neoplasia maligna pleural, câncer de pulmão e asbestose”, concluem os autores.

Estudos apontam para a necessidade de monitoramento especial do câncer de pulmão em áreas com maior exposição ao amianto

Por Gisele Fernandes

Em estudo prévio Lung Cancer Mortality Trends in a Brazilian City with a Long History of Asbestos Consumption, publicado em 2019 no International Journal of Environmental Research and Public Health, comparamos as taxas e tendências de mortalidade por câncer de pulmão entre 1980 e 2016 no município de Osasco, onde havia uso extensivo de amianto, com as taxas de um município de referência, Sorocaba, com menor exposição ao amianto, e com as taxas do Estado de São Paulo. Entre os homens, houve uma tendência de aumento na mortalidade por câncer de pulmão em Osasco em contraste com uma diminuição média anual de Sorocaba e média estável na tendência para o estado de São Paulo. Tendências crescentes semelhantes foram observadas em mulheres entre as três localidades.

Ambos os estudos apontam para a necessidade de monitoramento especial quanto à incidência e mortalidade por câncer de pulmão em áreas com maior exposição ao amianto, reconhecidamente o carcinógeno ocupacional associado com a maioria dos cânceres ocupacionais de pulmão.

É importante salientar que exposições ocupacionais são responsáveis por cerca de 8% dos casos de câncer de pulmão em países desenvolvidos, sendo maior do que 8% em homens. Em países de média e baixa renda é provável que este percentual sejam ainda maior devido a um menor controle das exposições em ambientes de trabalho e, a exposições a carcinógenos no meio ambiente.

Finalmente, lembramos que recentemente, foi divulgado pela CONITEC as Diretrizes Brasileiras para Diagnóstico do Mesotelioma Maligno de Pleura. O Mesotelioma é considerado como a impressão digital do uso do amianto numa determinada sociedade.

Este estudo é resultado de uma tese de doutorado desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) em conjunto com a FUNDACENTRO-SP.

Referência: Fernandes, GA, Algranti, E, Wunsch-Filho, V, Silva, LF, Toporcov, TN. Causes of death in former asbestos-cement workers in the state of São Paulo, Brazil. Am J Ind Med. 2021; 1- 8. https://doi.org/10.1002/ajim.23279