Revisão sistemática e metanálise que avaliou o impacto na sobrevida global considerando a cirurgia de câncer no sítio primário associada à terapia sistêmica, em comparação com a terapia sistêmica isolada, nos tipos mais comuns de câncer metastático. Os resultados foram publicados em artigo de Abel et al. no Cancer Medicine.
A cirurgia foi o primeiro tratamento efetivo para câncer e continua sendo uma modalidade de tratamento importante para a maioria dos tumores sólidos. Embora a cirurgia seja usada quase universalmente no tratamento de tumores localizados, seu papel é menos claro no cenário metastático, quando a cura é improvável.
Neste estudo, os pesquisadores revisaram as bases da Embase, PubMed e Web of Science (1º de janeiro de 1995 a 22 de março de 2023). Foram selecionados estudos publicados na língua inglesa e a qualidade de cada ensaio clínico randomizado foi avaliada com a Ferramenta Cochrane de Risco de Viés (Revised Cochrane Risk-of-Bias Tool for Randomized Trials).
Foram selecionados ensaios clínicos randomizados que incluíram pacientes diagnosticados com os 10 tipos de câncer metastático de novo mais comuns diagnosticados nos Estados Unidos, para identificar pacientes randomizados para ressecção do local primário e terapia sistêmica versus tratamento sistêmico isoladamente. Modelos de efeitos aleatórios foram usados para agrupar associações por tipo de câncer.
Oito estudos cumpriram os critérios da revisão sistemática. Um total de 1.774 pacientes foram incluídos, sendo 889 (50,1%) indivíduos submetidos a um procedimento cirúrgico para câncer metastático e 885 (49,9%) que receberam apenas terapia sistêmica. Dos 889 indivíduos que receberam cirurgia, 587 morreram durante o período do estudo, enquanto 626 dos 885 indivíduos que não receberam cirurgia morreram. O tempo médio de acompanhamento variou de 12,3 a 50,9 meses. O tempo médio de sobrevida global naqueles que foram submetidos a procedimento cirúrgico variou de 11,1 a 46,0 meses, enquanto o tempo médio de sobrevida global naqueles que não receberam cirurgia variou de 7,0 a 54,8 meses.
Os resultados mostram que não houve redução estatisticamente significativa no risco de morte por todas as causas associado à intervenção cirúrgica para câncer de mama metastático (HR = 0,94, IC 95% 0,63–1,40) ou câncer renal (HR = 0,79, IC 95% 0,53–1,20), embora os resultados tenham sido heterogêneos (I2 = 73,7% e 80,6%, respectivamente). Estudo que avaliou gastrectomia no câncer de estômago metastático não encontrou benefício (HR = 1,09, IC 95% 0,78–1,52), enquanto um pequeno estudo sugeriu que cirurgia e quimioterapia intraperitoneal hipertérmica podem ser benéficas para pacientes com câncer colorretal com metástase peritoneal (HR = 0,55, 95 % CI 0,32–0,95).
Os achados dessa revisão sistemática e metanálise mostram que parece haver discrepâncias entre as evidências e a prática do mundo real. ”Por exemplo, mesmo após a publicação de dois estudos randomizados que demonstraram vantagem de sobrevida global para nefrectomia citorredutora e terapia com interferon em comparação com a terapia com interferon isoladamente em pacientes com carcinoma de células renais metastático, houve uma diminuição paradoxal na utilização do procedimento nos Estados Unidos”, ilustram os autores.
Em conclusão, poucos estudos randomizados avaliaram a cirurgia direcionada ao câncer em pacientes com malignidades sólidas metastáticas.
“Nossos resultados são consistentes com revisões sistemáticas anteriores e meta-análises em diferentes locais de câncer. Meta-análise da Cochrane de dois estudos randomizados avaliando cirurgia em câncer de mama metastático demonstrou benefício incerto da cirurgia na sobrevida global, impulsionada por evidências de baixa qualidade”, analisa a publicação.
O câncer metastático é responsável por uma grande carga global de morbidade e mortalidade, contribuindo para 66,7% a 90% de todas as mortes por câncer.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Abel, MK, Myers, EL, Minkin, E, et al. Cancer-directed surgery in patients with metastatic cancer: A systematic review and meta-analysis of randomized evidence. Cancer Med. 2023; 12: 14072- 14083. doi:10.1002/cam4.6061