A ausência de dados comparativos entre a prostatectomia laparoscópica robô-assistida e a prostatectomia radical retropúbica aberta é uma lacuna de conhecimento na uro-oncologia. Agora, os resultados de um estudo australiano publicados online no dia 26 de julho no Lancet mostram que os resultados iniciais das duas técnicas em 12 semanas após a cirurgia não apresentam diferenças significativas.
No estudo randomizado, controlado, de fase III, foram selecionados homens entre 35 e 70 anos de idade recém-diagnosticados com câncer de próstata localizado e que tinham escolhido a cirurgia como abordagem de tratamento. Os pacientes recrutados no Royal Brisbane and Women's Hospital (Brisbane, Queensland) não tinham história prévia de traumatismo craniano, demência ou doença psiquiátrica, e nenhum outro câncer concomitante.
Os participantes foram randomizados (1:1) para receber prostatectomia laparoscópica robô-assistida ou prostatectomia radical retropúbica. Apesar de ser um estudo aberto, os investigadores envolvidos na análise de dados foram mascarados para o estado de cada paciente, assim como o patologista que reviu a biópsia e os espécimes da prostatectomia radical.
O estudo foi desenvolvido para avaliar os resultados de função urinária (domínio urinária de EPIC) e função sexual (domínio sexual de EPIC e IIEF) em 6 semanas, 12 semanas e 24 meses, além de resultados oncológicos (status da margem cirúrgica positiva e evidência bioquímica e de imagem de progressão em 24 meses). Os dados relatados correspondem aos primeiros resultados em 6 e 12 semanas.
Resultados
Entre 23 de agosto de 2010 e 25 de novembro de 2014, 326 homens foram inscritos, sendo 163 pacientes aleatoriamente designados para a prostatectomia radical retropúbica e 163 para prostatectomia laparoscópica robô-assistida. Desses pacientes, 18 desistiram (12 atribuídos à prostatectomia radical retropúbica e seis atribuídos a prostatectomia laparoscópica robô-assistida); assim, 151 no grupo prostatectomia radical retropúbica e 157 no grupo prostatectomia laparoscópica robô-assistida foram submetidos à cirurgia.
121 homens atribuídos à cirurgia aberta completaram o questionário de 12 semanas versus 131 atribuídos à prostatectomia por robô. As pontuações de função urinária não diferiram significativamente entre os grupos em 6 semanas de pós-operatório (74,5 vs 71,1; p=0,09) ou 12 semanas de pós-operatório (83,8 vs 82,50; p=0,48).
A pontuação de função sexual também não diferiu significativamente entre os grupos de prostatectomia radical retropúbica e prostatectomia laparoscópica robô-assistida em 6 semanas de pós-operatório (30,7 vs 32,70; p=0,45) ou 12 semanas de pós-operatório (35 vs 38,9; p=0,18).
Testes de equivalência na diferença entre a proporção de margens cirúrgicas positivas entre os dois grupos (15 [10%] no grupo de prostatectomia radical retropúbica versus 23 [15%] no grupo prostatectomia laparoscópica robô-assistida) mostraram que a igualdade entre as duas técnicas não pode ser estabelecida com base em um IC de 90% com um Δ de 10%.
No entanto, um teste de superioridade mostrou que as duas proporções não foram significativamente diferentes (p=0,21). 14 pacientes (9%) no grupo de prostatectomia retropúbica radical contra seis (4%) no grupo de prostatectomia laparoscópica robô-assistida tiveram complicações pós-operatórias (p=0,052). 12 (8%) dos homens que receberam prostatectomia aberta e três (2%) dos homens que receberam cirurgia robô-assistida apresentaram eventos adversos intra-operatórios.
Com base nesses achados, os autores concluíram que as duas técnicas produzem resultados funcionais semelhantes em 12 semanas e sugerem que um acompanhamento de longo prazo seja necessário. “Mais do que uma abordagem cirúrgica específica, nós encorajamos os pacientes a escolherem um cirurgião experiente, em quem confiem e tenham afinidade”, concluíram os autores.
O estudo foi financiado pelo Cancer Council Queensland e está registrado na Australian New Zealand ClinicalTrials Registry (ANZCTR), número ACTRN12611000661976.
Referência: Robot-assisted laparoscopic prostatectomy versus open radical retropubic prostatectomy: early outcomes from a randomized controlled phase 3 study - John W Yaxley, Geoffrey D Coughlin, Prof Suzanne K Chambers, Stefano Occhipinti, Hema Samaratunga, Leah Zajdlewicz, Nigel Dunglison, Prof Rob Carter, Scott Williams, Diane J Payton, Joanna Perry-Keene, Prof Martin F Lavin, Prof Robert A Gardiner- Published Online: 26 July 2016 - DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(16)30592-X