A quimiorradiação definitiva ou pós-operatória é curativa para o câncer de orofaringe associado ao papilomavírus humano (HPV+), mas induz toxicidade significativa. Estudo que avaliou a cirurgia transoral primária e a radioterapia pós-operatória em pacientes com câncer de orofaringe HPV+ de risco intermediário reportou os resultados no JCO*, em artigo do ECOG-ACRIN Cancer Research Group. " Apesar de ter sido desenvolvido em um contexto mais específicos da realidade americana, uma vez que se trata de pacientes, muitas vezes, com pequeno volume de doença e que foram submetidos a ressecção transoral robótica, fica de mensagem de que a diminuição de dose de radioterapia é factível e segura nesse grupo de pacientes", avalia Leandro Luongo de Matos (foto), professor livre docente e chefe do grupo de boca e orofaringe da disciplina de cirurgia de cabeça e pescoço da FMUSP.
"O artigo, um dos mais robustos estudos multicêntricos e randomizados de um assunto bastante aguardado na prática clínica dos especialistas que tratam do câncer de orofaringe, traz os dados apresentados na ASCO de 2020 sobre a desintensificação de tratamento no CEC de orofaringe p16+", acrescenta.
Este estudo randomizado de Fase II (E3311) avaliou a cirurgia transoral mais radioterapia pós-operatória com dose reduzida no tratamento do câncer de orofaringe, em pacientes com doença HPV+ estágio III-IVa ressecado (AJCC-7ª edição). O endpoint primário foi a eficácia da cirurgia transoral + RT nessa população, considerando a sobrevida livre de progressão em 2 anos em pacientes de risco intermediário, após a ressecção.
Foram elegíveis 495 pacientes tratados com cirurgia transoral, randomizados para: braço A (n = 38, baixo risco), com 11% da população do estudo; braço B, risco intermediário (50Gy, n=100) ou C (60 Gy, n = 108), com 58% e D (alto risco, n = 113), com 31% da população avaliada.
Os resultados reportados por Ferris et al. no Journal of Clinical Oncology mostram que a cirurgia transoral mais radioterapia pós-operatória com 50 Gy foi um esquema promissor no tratamento do câncer de orofaringe HPV+. Em um acompanhamento mediano de 35,2 meses para 359 pacientes avaliáveis, a estimativa de SLP em 2 anos foi de 96,9% (IC de 90%, 91,9 a 100) para o braço A (observação), 94,9 % (90% CI, 91,3 a 98,6]) para o braço B (50 Gy), 96,0% (90% CI, 92,8 a 99,3) para o braço C (60 Gy) e de 90,7% (90% CI, 86,2 a 95,4) para o braço D (66 Gy mais cisplatina semanal).
“A cirurgia transoral primária e a RT pós-operatória com dose reduzida mostraram resultados oncológicos excelentes e resultados funcionais favoráveis em pacientes com câncer de orofaringe HPV+ de risco intermediário”, concluem os autores.
A publicação no JCO deste ensaio clínico randomizado de fase II marca os primeiros dados multicêntricos prospectivos sobre cirurgia transoral + RT adjuvante com dose reduzida no câncer de cabeça e pescoço. Para 70% dos pacientes que foram submetidos à terapia adjuvante pós-operatória desintensificada, a sobrevida livre de progressão suporta a eficácia e segurança dessa estratégia. Ferris e colegas ainda destacam que análises exploratórias também sugerem tendência a melhores escores de qualidade de vida.
Referência: Phase II Randomized Trial of Transoral Surgery and Low-Dose Intensity Modulated Radiation Therapy in Resectable p16+ Locally Advanced Oropharynx Cancer: An ECOG-ACRIN Cancer Research Group Trial (E3311) - DOI: 10.1200/JCO.21.01752 Journal of Clinical Oncology - Published online October 26, 2021.