A infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV) está associada a vários tipos de câncer, como o linfoma de Burkitt, a doença de Hodgkin e o carcinoma de nasofaringe. Estudo brasileiro relatado na Plos One apresenta resultados de 14 anos de acompanhamento de indivíduos amazônicos coinfectados por malária (Plasmodium vivax) e EBV, com achados que ampliam a compreensão sobre o imunizante experimental dirigido a P. vivax.
Para desenvolver uma vacina eficaz contra Plasmodium vivax, o parasita da malária humana mais amplamente disperso, é fundamental entender como as coinfecções com outros patógenos podem impactar a resposta imune específica da malária. Estudo conceitual recente propôs que o vírus Epstein-Barr, um herpesvírus humano altamente prevalente que estabelece infecção persistente ao longo da vida, pode influenciar as respostas de anticorpos do P. vivax.
Neste estudo, os pesquisadores buscaram fornecer pela primeira vez uma descrição exploratória da resposta imune humoral de longo prazo do P. vivax no contexto da coinfecção por EBV. O acompanhamento de 14 anos foi realizado entre indivíduos amazônicos expostos a longo prazo ao P. vivax (272, idade média de 35 anos) e incluiu 9 pesquisas transversais em períodos de alta e baixa transmissão de malária. A abordagem experimental focou no monitoramento de anticorpos para o principal candidato à vacina do P. vivax em estágio sanguíneo, a região II da proteína de ligação Duffy (DBPII-Sal1), incluindo uma nova vacina projetada com base em DBPII visando epítopos conservados (DEKnull-2). Paralelamente, o status da infecção por EBV foi determinado ao longo do tempo pela detecção de DNA circulante de EBV (EBV-DNAemia) e anticorpos específicos de EBV para antígenos líticos (VCAp18) ou latentes (EBNA1).
Independentemente do período de transmissão da malária, os resultados demonstraram que um ou múltiplos episódios de EBV-DNAemia não influenciaram a longevidade das respostas imunes DBPII para anticorpos específicos da cepa (Sal-1) ou transcendentes à cepa (DEKnull-2). Além disso, o tempo médio em que os respondedores DBPII perderam seus anticorpos não estava relacionado ao soroestado de EBV.
O trabalho tem como primeiro autor o pesquisador Luiz Felipe Ferreira Guimarães, do Instituto René Rachou, da Fiocruz Minas Gerais.
Referência:
Guimarães LFF, Rodrigues BA, Dias MHF, Barcelos MG, Nascimento MFA, Moreira-Nascimento SL, et al. (2025) Antibody response to Plasmodium vivax in the context of Epstein-Barr virus (EBV) co-infection: A 14-year follow-up study in the Amazon rainforest. PLoS ONE 20(1): e0311704. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0311704