Ensaio histórico publicado no Lancet Regional Health Americas investiga as profundas mudanças provocadas pelo comércio transatlântico de escravos da África para as Américas, explorando as conexões entre a dinâmica do período colonial no Brasil e o atual panorama epidemiológico do câncer de cabeça e pescoço (CCP). O trabalho tem como primeira autora a pesquisadora Beatriz Figueiredo Lebre Martins (foto), da Unicamp, com participação do LACOG e do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço.
O impacto do colonialismo no Brasil teve implicações significativas nos resultados de saúde e oncologia. Martins et al. fornecem insights sobre o papel da produção e consumo de tabaco e álcool, em análise que descreve como o colonialismo na América Latina e Caribe (ALC) impactou a economia, os valores sociais e hábitos culturais, influenciando os padrões epidemiológicos atuais. “GLOBOCAN 2020 relata Brasil, Argentina e Cuba com a maior prevalência de CCP na ALC, reforçando que esse cenário epidemiológico não é mera coincidência, mas resultado de legados históricos que influenciam os resultados de saúde contemporâneos”.
No contexto da complexa relação entre epidemiologia e determinantes sócio-históricos, os autores discorrem sobre o racismo estrutural, que contribui para disparidades no acesso ao diagnóstico, tratamento e prognóstico de pacientes com CCP.
A análise se estende às políticas públicas em andamento, destinadas a romper esse legado histórico, e propõe direções futuras. “Este artigo apresenta novas visões e uma análise de estratégias baseadas em evidências para interromper o impacto adverso do legado do colonialismo na epidemiologia do CCP no Brasil”, sinalizam os autores.
O câncer de cabeça e pescoço é descrito como um grupo heterogêneo de neoplasias malignas que acometem cavidade oral, orofaringe, hipofaringe, laringe, nasofaringe e glândulas salivares, entre outras localizações anatômicas. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) projetam 39.550 novos casos de CCP no Brasil em 2024. “Os principais fatores etiológicos são o consumo crônico de tabaco e álcool para tumores de cavidade oral, exposição solar para câncer de lábio, e infecções por vírus oncogênicos como o vírus Epstein-Barr e o papilomavírus humano”.
O artigo tem como autor sênior o pesquisador Alan Roger Santos-Silva (FOP-Unicamp), e a coautoria de Erison Santana dos Santos, Felipe Paiva Fonseca, William Nassib William Jr., Thiago Bueno de Oliveira, Gustavo Nader Marta, Aline Lauda Freitas Chaves, Ana Carolina Prado-Ribeiro, Olalekan Ayo-Yusuf, Maria Paula Curado, Alexandre Macchione Saes e Luiz Paulo Kowalski.
A íntegra está disponível no Lancet Regional Health Americas em acesso aberto.
Referência: Open AccessPublished:February 08, 2024. DOI: https://doi.org/10.1016/j.lana.2024.100690 PlumX Metrics