Conflitos de interesse resultantes dos pagamentos da indústria farmacêutica a oncologistas são reconhecidos como um fator preditivo para a aprovação regulatória e a incorporação de diretrizes terapêuticas de baixo valor, enquanto as despesas com tratamentos oncológicos disparam, muitos com benefícios clínicos marginais, ou mesmo nenhum. A crítica está no JCO Oncology Practice, em estudo que revela a extensão do problema na Holanda, com quase 1 milhão de euros pagos entre 2019 e 2021, alcançando 48,8% dos oncologistas.
Neste estudo transversal retrospectivo, pesquisadores do centro de oncologia e hematologia do Curaçao Medical Center utilizaram vários bancos de dados de acesso aberto e extraíram dados registrados entre 2019 e 2021 na Holanda.
Embora tenha havido declínio tanto na proporção de oncologistas que receberam pagamentos (de 40,4% em 2019 para 19,1% em 2021) quanto no valor médio anual dos pagamentos (de 2.962 euros em 2019 para 2.188 euros em 2021), a análise de Schnog e colegas permite dimensionar a gravidade dos conflitos de interesse, com um montante acumulado de 899.863 euros pagos a 48,8% dos 408 médicos oncologistas inscritos.
Sobre o declínio dos pagamentos no período, os autores especulam que, possivelmente, se deve à pandemia SARS-CoV-2, que foi associada a uma diminuição nas atividades promocionais da indústria farmacêutica.
A análise revela, ainda, que os chamados key opinion leaders (KOLs) foram mais propensos a receber pagamentos da indústria, além de um valor médio mais elevado.
“Nossos achados devem contribuir para a crescente consciencialização sobre os efeitos potenciais dos conflitos de interesse financeiros”, descrevem os autores.
Nos Estados Unidos e na Holanda foram criadas bases de dados de acesso aberto para reportar de forma transparente os pagamentos da indústria farmacêutica aos profissionais de saúde. No contexto norte-americano, alguns estudos sugerem que a política do Open Payment levou a um declínio nas transferências das indústrias farmacêuticas, nos custos de prescrição e no uso de medicamentos de alto risco.
Referência: J.B. Schnog et al., Pharmaceutical Industry Payments to Medical Oncologists in the Netherlands: Trends and Patterns Provided by an Open-Access Transparency Data Set. JCO Oncol Pract 0, OP.23.00533 DOI:10.1200/OP.23.00533
