O estudo COLOPEC (NCT02231086) buscou determinar a eficácia da quimioterapia hipertérmica intraperitoneal (HIPEC) adjuvante na redução do risco de metástases peritoneais em pacientes com câncer de cólon de alto risco submetidos à ressecção curativa. Os resultados de longo prazo em 5 anos foram publicados no Journal of Clinical Oncology (JCO) e não demonstraram diferenças significativas que favoreçam a utilização da HIPEC nessa população de pacientes. "Os resultados de longo prazo do estudo COLOPEC acabam por sedimentar a ineficácia da HIPEC no tratamento do câncer de colón”, avalia o cirurgião oncológico Thales Paulo Batista (foto).
Este estudo holandês multicêntrico incluiu pacientes com estadio clínico ou patológico T4N0-2M0 ou com tumores perfurados, randomizados (1:1) para quimioterapia sistêmica adjuvante e HIPEC (n = 100) ou apenas para quimioterapia sistêmica adjuvante (n = 102).
O regime de HIPEC utilizando compreendeu o regime francês de oxaliplatina intraperitoneal (460 mg/m2, 30 minutos, 42°C) concomitantemente ao uso de fluorouracil/leucovorina por via intravenosa, aplicados ao tempo da cirurgia primária (9%) ou 5-8 semanas (91%) após a ressecção colônica.
Os resultados foram analisados de acordo com o princípio da intenção de tratar. Estavam disponíveis dados de longo prazo de todos os 202 pacientes incluídos no ensaio COLOPEC, com um acompanhamento mediano de 59 meses (IQR, 54,5-64,5).
Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre as taxas de sobrevivência global em 5 anos entre os pacientes randomizados para HIPEC adjuvante seguido de quimioterapia sistêmica ou apenas quimioterapia sistêmica adjuvante (69,6% v 70,9%, log-rank; P = 0,692).
Em cinco anos, as taxas de metástases peritoneais foram de 63,9% e 63,2% (P = 0,907) e a sobrevivência cumulativa livre de doença foi de 55,7% e 52,3% (log-rank; P = 0,875), respectivamente. A adição de HIPEC, no entanto, não acumulou impacto negativo sobre a qualidade de vida dos pacientes envolvidos neste estudo. “HIPEC adjuvante deve ficar restrita ao contexto de ensaios clínicos em pacientes com câncer de colorretal de alto risco”, afirmaram os autores.
O cirurgião oncológico Thales Paulo Batista, Professor do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e médico do Real Instituto de Cirurgia Oncológica, no Real Hospital Português, em Recife (PE), observa que estes dados se somam aos resultados negativos dos estudos PROPHYLOCHIP e PRODIGE-7, que também não demonstraram benefício da HIPEC com a utilização do regime francês bidirecional; tanto para a profilaxia quanto para o tratamento da disseminação peritoneal do câncer de cólon. “Um ponto em comum entre estes estudos foi a utilização do mesmo regime de tratamento baseado em oxaliplatina intraperitoneal, o que ainda estimula alguma discussão sobre a possibilidade de que outro regime de HIPEC pudesse agregar benefícios ao controle da disseminação peritoneal neste tipo de câncer", conclui.
Referência: Zwanenburg ES, El Klaver C, Wisselink DD, Punt CJA, Snaebjornsson P, Crezee J, Aalbers AGJ, Brandt-Kerkhof ARM, Bremers AJA, Burger PJWA, Fabry HFJ, Ferenschild FTJ, Festen S, van Grevenstein WMU, Hemmer PHJ, de Hingh IHJT, Kok NFM, Kusters M, Musters GD, Schoonderwoerd L, Tuynman JB, van de Ven AWH, van Westreenen HL, Wiezer MJ, Zimmerman DDE, van Zweeden A, Dijkgraaf MGW, Tanis PJ; COLOPEC Collaborators Group. Adjuvant Hyperthermic Intraperitoneal Chemotherapy in Patients With Locally Advanced Colon Cancer (COLOPEC): 5-Year Results of a Randomized Multicenter Trial. J Clin Oncol. 2023 Nov 3:JCO2202644. doi: 10.1200/JCO.22.02644. Epub ahead of print. PMID: 37922442.