Um estudo de fase II apresentado como late breaking abstract no 30th EORTC-NCI-AACR Symposium on Molecular Targets and Cancer Therapeutics em Dublin, Irlanda, mostrou a eficácia da combinação de inibidores de BRAF e MEK no tratamento do câncer do trato biliar e adenocarcinoma do intestino delgado avançado e/ou metastático em pacientes que não responderam a tratamentos anteriores.
O estudo incluiu 36 pacientes com câncer do trato biliar (BTC) e adenocarcinoma do intestino delgado (ASI) com mutação no BRAF V600E, uma das mutações mais comuns no gene BRAF e presente em vários tipos de câncer e em cerca de 15% dos cânceres de BTC e ASI. Os pacientes receberam 150 mg do inibidor de BRAF dabrafenibe duas vezes ao dia e 2 mg do inibidor de MEK trametinibe uma vez ao dia. Todos os participantes tinham doença avançada ou metastática.
Os resultados mostraram que os tumores de 13 de 32 pacientes (41%) com câncer do trato biliar e dois dos três pacientes (67%) com adenocarcinoma do intestino delgado diminuíram de tamanho quando tratados com a combinação. A maioria dos efeitos colaterais do tratamento foi manejável, com fadiga e febre sendo o mais problemático.
“Até o final de outubro, seis dos cânceres do trato biliar ainda estavam respondendo ao tratamento e as respostas duraram pelo menos seis meses em sete pacientes. O tempo médio antes do câncer começar a crescer novamente foi de 7,2 meses, com alguns pacientes sobrevivendo sem que sua doença progredisse por mais de um ano. A mediana de sobrevida global foi de 11,3 meses, com alguns pacientes sobrevivendo até dois anos”, afirmou Zev Wainberg, Professor Associado de Medicina na Universidade da Califórnia em Los Angeles, EUA, e primeiro autor do estudo.
Câncer do trato biliar e adenocarcinoma do intestino delgado são tumores raros e agressivos que têm prognósticos muito ruins e para os quais as opções terapêuticas são limitadas. São difíceis de detectar em um estágio inicial e, portanto, a maioria dos casos é diagnosticado já em estágio avançado. Apenas 5% dos pacientes ainda estão vivos cinco anos após o diagnóstico, o que reflete em uma escassez de dados sobre a eficácia da segunda ou terceira linhas de tratamento.
A realização de testes de novas terapias em tumores raros, como o câncer do trato biliar, é difícil devido à dificuldade no recrutamento de um número suficiente de pacientes para obter resultados significativos. Grandes estudos internacionais, como este, são a melhor maneira de testar novos tratamentos.
Pesquisas em outros tipos de câncer, como melanoma, câncer de tireoide e câncer de pulmão, já demonstraram que combinações de drogas que inibem as vias de câncer BRAF e MEK podem ser eficazes. Este é um dos poucos ensaios de terapias-alvo para o câncer do trato biliar e adenocarcinoma do intestino delgado, e a primeira vez com dados sobre drogas que visam a mutação BRAF nesses pacientes.
“Estes resultados iniciais demonstram o potencial da combinação de dabrafenibe e trametinibe para conduzir a respostas significativas em pacientes selecionados, e apoiam a ideia de que todos os pacientes com câncer do trato biliar devem ser testados para verificar a presença de mutação”, concluiu Wainberg.
Referência: Abstract 2 LBA - Efficacy and safety of dabrafenib plus trametinib in patients with BRAF V600E-mutated biliary tract cancer and adenocarcinoma of the small intestine.