Estudo multicêntrico que avaliou retrospectivamente quase 3 mil casos de esofagectomia minimamente invasiva relatou as complicações intraoperatórias e mostrou mortalidade significativa em 90 dias (9,2%), especialmente entre pacientes que sofreram lesões vasculares no tórax. Os resultados foram relatados por Söderström et al. no Annals of Surgical Oncology.
Estudos demonstraram que a esofagectomia minimamente invasiva (EMI) é uma técnica cirúrgica viável no tratamento do carcinoma de esôfago. As complicações pós-operatórias foram extensivamente revisadas, mas a literatura com foco nas complicações intraoperatórias ainda é limitada.
Neste estudo de pesquisadores da Universidade de Helsinki, Dinamarca, o principal objetivo foi relatar as principais complicações intraoperatórias e a mortalidade em 90 dias durante a EMI por câncer.
Os dados foram coletados retrospectivamente de 10 centros europeus de cirurgia esofágica. Todas as esofagectomias laparoscópicas/toracoscópicas minimamente invasivas, com intenção de tratar, com reconstrução do conduto gástrico para casos de câncer de esôfago e de junção gastroesofágica operados entre 2003 e 2019 foram revisadas. As principais complicações intraoperatórias foram definidas como perda de conduto, transecção errônea de estruturas vasculares, lesão significativa de outros órgãos, incluindo intestino, coração, fígado ou pulmão, esplenectomia ou outras complicações importantes, incluindo lesões por intubação, arritmia, embolia pulmonar e infarto do miocárdio.
Entre 2.862 casos de EMI, foram identificados 98 pacientes com 101 complicações intraoperatórias. Os autores descrevem que as lesões vasculares foram as mais prevalentes, 41 durante a laparoscopia e 19 durante a toracoscopia, com lesões em 18 vasos diferentes. Houve 24 lesões vasculares ou capsulares esplênicas, 11 necessitando de esplenectomias. Foram relatadas quatro perdas de conduto por lesão da artéria gastroepiplóica e seis lesões intestinais. Oito lesões traqueobrônquicas necessitaram de reparo e 11 pacientes apresentaram lesões significativas no parênquima pulmonar. Houve 2 mortes na mesa. A mortalidade em noventa dias foi de 9,2%.
“Este estudo oferece uma visão geral da gama de complicações intraoperatórias durante a esofagectomia minimamente invasiva. A mortalidade, especialmente por lesões vasculares intratorácicas, parece significativa”, concluem os autores.
Entre 2.862 pacientes com câncer de esôfago submetidos à esofagectomia minimamente invasiva, as lesões durante a laparoscopia foram ligeiramente mais frequentes do que durante a toracoscopia. No geral, as lesões vasculares foram mais comuns do que as lesões viscerais, foram associadas a mais perda de sangue e mais frequentemente consideradas como risco imediato de vida.
O estudo destaca que grande proporção de esofagectomias ainda é realizada em centros de baixo volume, o que tem sido associado a um resultado pior em vários estudos. Além disso, as esofagectomias são realizadas por ampla gama de especialidades cirúrgicas, incluindo cirurgiões torácicos, cirurgiões cardiotorácicos, cirurgiões viscerais/GI superiores, oncologistas cirúrgicos e cirurgiões gerais, todos com diferentes formações. “Este estudo relata diferentes complicações que podem ser encontradas, pode ajudar a chamar a atenção para aspectos de maior risco da operação e, portanto, aumentar a segurança cirúrgica”, analisam.
Referência: Söderström, H., Moons, J., Nafteux, P. et al. Major Intraoperative Complications During Minimally Invasive Esophagectomy. Ann Surg Oncol (2023). https://doi.org/10.1245/s10434-023-14340-3