Onconews - Comprometimento cognitivo relacionado ao câncer: um guia prático para oncologistas

Artigo publicado na JCO Oncology Practice traz um fluxograma rápido para ajudar a identificar e abordar o comprometimento cognitivo relacionado ao câncer, uma síndrome que afeta até 60%-75% ou mais dos pacientes com câncer e tem um impacto significativo na qualidade de vida. “Nosso objetivo é dar visibilidade ao declínio cognitivo e contribuir para o seu manejo, ajudando os oncologistas a tomarem medidas precoces para uma síndrome que geralmente é esquecida”, destacam os autores.

Comprometimento cognitivo relacionado ao câncer é o declínio cognitivo subagudo, crônico e às vezes progressivo que pacientes com câncer apresentam por consequência da própria doença e/ou tratamentos contra o câncer. Os tratamentos relacionados a esse comprometimento incluem quimioterapia, radioterapia, cirurgia, terapia hormonal, terapia direcionada com anticorpos e inibidores de pequenas moléculas e imunoterapia.

“Espera-se que a prevalência do comprometimento cognitivo relacionado ao câncer aumente, pois os tratamentos contra o câncer estão melhorando e os pacientes estão vivendo mais e recebendo tratamentos contra o câncer por mais tempo”, observam os autores, ressaltando que apesar da alta prevalência e seus impactos negativos significativos sobre os pacientes e seus cuidadores, a síndrome geralmente não é reconhecido pelos oncologistas e não é rotineiramente rastreado.

Para preencher essa lacuna, Zhang e colegas desenvolveram um guia prático para oncologistas baseado na sua experiência coletiva. "Se houver suspeita de comprometimento cognitivo relacionado ao câncer, sugerimos não esperar pelos resultados de testes neurocognitivos formais e, em vez disso, implementar intervenções simples e de baixo risco", afirmam.

Primeiro, estratégias para aumentar a conscientização sobre comprometimento cognitivo relacionado ao câncer entre pacientes e provedores são primordiais. Os autores recomendam triagem de rotina para cognição durante as visitas de acompanhamento, independentemente de o paciente estar em tratamento ativo ou ter concluído o tratamento.

Pacientes com comprometimento cognitivo relacionado ao câncer comumente relatam problemas com velocidade lenta de processamento, dificuldade com planejamento/multitarefa, dificuldade para encontrar palavras, dificuldade para formar pensamentos e problemas com memória e atenção.” Recomendamos iniciar a conversa e a triagem do paciente perguntando "Você teve alguma mudança em seu pensamento, memória ou atenção? Essas mudanças afetaram sua vida diária?"

Se um paciente tiver sintomas que podem ser devidos a comprometimento cognitivo, uma abordagem compassiva e de apoio é recomendada. “Embora haja uma falta atual de intervenções direcionada, há intervenções práticas e fáceis de implementar orientadas para sintomas que podem ser úteis. Elas incluem exercícios aeróbicos, ioga, meditação mindfulness ou a implementação de estratégias compensatórias. Até o momento, a intervenção que demonstrou ter os dados mais robustos para tratar comprometimento cognitivo é o exercício físico”, observam.

Apesar das limitações das ferramentas de diagnóstico, os pacientes podem se beneficiar de encaminhamentos para neurologia, neuropsiquiatria e psiquiatria para mais testes, consultas e tratamentos, como treinamento cognitivo, reabilitação cognitiva ou consideração para um curso curto de psicoestimulantes. Dependendo da gravidade dos sintomas, os oncologistas podem explorar reduções de dose de terapia de câncer, troca de terapias ou até mesmo pausar ou interromper o tratamento.

Em síntese, o comprometimento cognitivo relacionado ao câncer é um distúrbio comum que afeta muitos pacientes com câncer durante e após a terapia. “É uma condição desafiadora de diagnosticar e difícil de tratar. Enquanto mais pesquisas para orientar estratégias de diagnóstico e tratamento baseadas em evidências estão sendo desenvolvidas, pretendemos fornecer um guia prático para oncologistas para rastrear e manejar o comprometimento cognitivo e aumentar a conscientização sobre essa condição clinicamente relevante”, concluem.

Referência: 

Yu Zhang et al. Cancer-Related Cognitive Impairment: A Practical Guide for Oncologists. JCO Oncol Pract 0, OP-24-00953. DOI:10.1200/OP-24-00953