Roberto Pestana (foto), oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e ex-fellow no MD Anderson Cancer Center, é coprimeiro autor de artigo de revisão publicado no periódico Cancer Journal for Clinicians que resume as atuais aprovações de conjugados anticorpo-droga (ADCs) pela U.S. Food and Drug Administration com foco em tumores sólidos e discute os desafios e oportunidades apresentados pela expansão multihistológica dos ADCs.
Nos últimos anos, com a descoberta de biomarcadores de câncer distintos, surgiu a necessidade de reclassificar tumores considerando mais do que sua histologia, e as terapias agora são adaptadas para tratar tumores com base em aberrações moleculares específicas e marcadores imunológicos.
Múltiplas terapias histológicas agnósticas são atualmente adotadas na prática clínica para o tratamento de pacientes, independentemente do local de origem do tumor. Em paralelo com este novo modelo para o desenvolvimento de drogas, vários novos conjugados anticorpo-droga foram aprovados para o tratamento de tumores sólidos, beneficiando-se de melhorias de engenharia no processo de conjugação e a introdução de novos ligantes.
“Menos de uma década após a primeira aprovação de um ADC para tratar um tumor sólido, estamos vivenciando uma expansão sem precedentes dessa estratégia de tratamento. As melhorias de engenharia conferiram aos novos conjugados uma potência aumentada e recursos específicos, permitindo ampliar a gama de tumores sólidos direcionáveis”, destaca a publicação.
Com o reconhecimento de que vários alvos de superfície são expressos em várias histologias tumorais, ao lado da notável atividade dos modernos ADCs, esta classe de drogas tem sido cada vez mais avaliada como adequada para uma expansão de indicação histologia-agnóstica. Como exemplo, os autores citam o ADC anti-HER2 trastuzumabe deruxtecana, que demonstrou atividade convincente em câncer de mama, gástrico, colorretal e de pulmão com superexpressão ou amplificação de HER2. Exemplos de novos alvos de ADCs potencialmente agnósticos quanto à histologia incluem o antígeno de superfície celular do trofoblasto 2 (Trop-2) e a nectina-4.
Entre os desafios apresentados por este paradigma emergente, a publicação aponta a identificação dos biomarcadores ideais para prever a atividade do ADC e o gerenciamento da toxicidade desses agentes. “Se tais desafios forem enfrentados de forma adequada, a próxima década poderá ver o surgimento de uma nova onda de tratamentos ativos independentemente do sítio tumoral, expandindo a capacidade de tratar o câncer e se traduzindo em benefícios clínicos concretos para pacientes oncológicos em uma ampla gama de tipos de câncer”, concluem os autores.
Referência: Tarantino, P, Carmagnani Pestana, R, Corti, C, Modi, S, Bardia, A, Tolaney, SM, Cortes, J, Soria, J-C, Curigliano, G. Antibody–drug conjugates: Smart chemotherapy delivery across tumor histologies. CA Cancer J Clin. 2021. https://doi.org/10.3322/caac.21705