A dor é um dos aspectos mais temidos do câncer, com impacto negativo na qualidade de vida. Para amenizar esse cenário, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) lançou seu 1º Consenso de Tratamento da Dor Oncológica, que mostra sugestões de abordagens e medidas de tratamentos adequados.
“A dor subtratada ou não tratada ainda é uma triste realidade na oncologia brasileira”, admite Sandra Serrano, do AC Camargo Cancer Center, membro da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor (SBED), para quem pouca atenção tem sido dada ao tratamento da dor oncológica quando se compara a ênfase dedicada aos avanços tecnológicos no controle do câncer.
O consenso desenvolvido pela SBOC reuniu renomados médicos com especialização no tratamento da dor e/ou cuidados paliativos, e é o primeiro relacionado ao tema feito pela Sociedade no Brasil. “Grande parte dos pacientes que têm câncer sofrem com dores fortes, agudas ou crônicas consequentes do tratamento ou até mesmo da própria doença. Por isso, é importante capacitarmos cada vez mais os profissionais de saúde na perspectiva de melhorar os serviços prestados e a condição de vida dos que estão acometidos pela enfermidade”, explica Evanius Wiermann, oncologista e presidente da SBOC.
O documento está disponível no site da SBOC - http://www.sboc.org.br/consenso-da-dor-oncologica/.
Dor oncológica no JCO
O Journal of Clinical Oncology também enfatizou a dor em sua edição de 1º de junho (JCO Jun 1, 2014:1637-1639), que trouxe um estudo de revisão com uma série de abordagens baseadas em evidências para a avaliação e gestão da dor no paciente oncológico.
O trabalho reúne diversas recomendações, com a participação de diferentes especialistas, e entre as várias perspectivas mostra a importância de um plano de tratamento multidimensional associado a um acompanhamento personalizado para melhorar a adesão do paciente e, em última instância, otimizar o controle da dor.
A série abre espaço para debater temas como opioides, farmacologia e alívio da dor, mostrando como o tratamento com novos agentes pode impactar seletivamente os estímulos nociceptivos relacionados, introduzindo o conceito de "agonismo parcial", sem deixar de lado questões importantes, tais como tolerância, riscos e benefícios do uso de opioides na dor do paciente oncológico, seleção de drogas, individualização da dose e vias de administração.
A série sobre dor oncológica também confere atenção à biologia da dor no câncer, explorando temas como dor óssea, dor e nocicepção e os complexos mecanismos da dor inflamatória e da dor neuropática. O trabalho discute ainda elementos associados ao próprio câncer, que ajudam a explicar porque a dor oncológica pode ter uma intensidade tão variável e difícil de gerir.
“É uma leitura obrigatória para a prática clínica”, recomenda Sandra Serrano, para quem a publicação do JCO provoca também uma reflexão sobre a realidade atual e o potencial de mudança. “Tratar a dor no contexto do tratamento do câncer é fundamental e precisa entrar na agenda da assistência oncológica”, diz a especialista.
Referência: http://jco.ascopubs.org/content/32/16/1637.full