Revisão sistemática e meta-análise de estudos de coorte prospectivos avaliou a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o risco de câncer gastrointestinal. A gastroenterologista Gilmara Coelho Meine (foto) é a primeira autora do estudo publicado no American Journal of Gastroenterology.
A ingestão de alimentos ultraprocessados está associada a um maior risco de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Entretanto, os dados iniciais sobre a relação entre o consumo de ultraprocessados e o risco de câncer foram derivados de estudos observacionais retrospectivos com resultados contraditórios.
Nesta revisão sistemática e meta-análise, os pesquisadores buscaram nas bases de dados PubMed, Embase e Cochrane por estudos de coorte prospectivos que comparassem o nível mais alto versus o mais baixo de consumo de alimentos ultraprocessados de acordo com a classificação alimentar NOVA, avaliando a associação com câncer gastrointestinal por topografia. A estimativa de efeito foi quantificada através da razão de risco (HR), usando um modelo de efeitos aleatórios.
Cinco estudos de coorte prospectivos foram incluídos nesta revisão, compreendendo 1.128.243 participantes (241.201 participantes nos níveis mais elevados e 223.366 nos níveis mais baixos de consumo de alimentos ultraprocessados). O tempo médio de seguimento variou de 5,4 a 28 anos. Todos os estudos realizaram análises multivariadas, ajustando o HR para diversos fatores de risco conhecidos para câncer gastrointestinal, tais como idade, tabagismo, ingestão de bebidas alcoólicas e índice de massa corporal.
O maior consumo de alimentos ultraprocessados foi significativamente associado a um risco aumentado de câncer colorretal (HR 1,11; 95% CI 1,03–1,21; P = 0,01) e de câncer gástrico não cárdia (HR 1,43; 95% CI 1,02–2,00; P = 0,04) quando comparado ao menor consumo. No entanto, nenhuma associação foi encontrada entre o alto consumo de alimentos ultraprocessados e carcinoma hepatocelular, câncer esofágico, pancreático e gástrico de cárdia.
Em conclusão, o maior consumo de alimentos ultraprocessados foi significativamente associado a um risco aumentado de câncer gástrico não cárdia e câncer colorretal.”
Além de Gilmara, aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação Ciências em Gastroenterologia e Hepatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora de Medicina na Universidade Feevale, participam do estudo os médicos pesquisadores Rafael da Veiga Picon e Guilherme Becker Sander, da UFRGS, e Paula Arruda do Espírito Santo, da Universidade Federal de São Carlos.
Referência: Meine GC, Picon RV, Espírito Santo PA, Sander GB. Ultra-Processed Food Consumption and Gastrointestinal Cancer Risk: A Systematic Review and Meta-Analysis. Am J Gastroenterol. 2024 Jun 1;119(6):1056-1065. doi: 10.14309/ajg.0000000000002826. Epub 2024 Apr 8. PMID: 38832708.