Estudo publicado no European Journal of Nutrition mostra que o maior consumo de alimentos ultraprocessados pode estar associado ao desenvolvimento de câncer esofágico e de cabeça e pescoço. O trabalho tem participação das brasileiras Fernanda Rauber e Renata Bertazzi Levy, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, e da pesquisadora Diana Barbosa Cunha, do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Neste estudo, foram incluídos 450.111 participantes da coorte do European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC). Os pesquisadores avaliaram a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados (AUP) e o risco de câncer de cabeça e pescoço (CCP) e adenocarcinoma esofágica (AE). Uma análise de mediação foi realizada para avaliar o papel do índice de massa corporal (IMC) e da relação cintura-quadril (RCQ) nessas associações. Nas análises de sensibilidade, o estudo considerou a morte acidental como resultado de controle negativo.
Em um seguimento mediano de 14,13 ± 3,98 anos, um total de 910 e 215 participantes desenvolveram CCP e AE, respectivamente. Um consumo maior que 10% g/d de AUPs foi associado a um risco aumentado de CCP (razão de risco [HR] = 1,23, intervalo de confiança [IC] de 95% 1,14–1,34) e AE (HR = 1,24, IC 95% 1,05– 1.47). A RCQ mediou 5% (IC 95% 3–10%) da associação entre o consumo de AUP e o risco de CCP, enquanto o IMC e a RCQ, respectivamente, mediaram 13% (IC 95% 6–53%) e 15% (95% IC 8–72%) da associação entre consumo de AUP e risco de AE. O consumo de AUP foi positivamente associado à morte acidental na análise do controle negativo.
“Reafirmamos que o maior consumo de AUP está associado a maior risco de CCP e AE naa coorte analisada. A proporção mediada pela adiposidade foi pequena. Mais pesquisas são necessárias para investigar outros mecanismos que possam estar em jogo (se existe de fato algum efeito causal do consumo de AUP nestes tipos de câncer)”, concluem os autores.
Em síntese, o estudo indicou que uma ingestão 10% maior de alimentos ultraprocessados foi associada a um risco 23% maior de câncer de cabeça e pescoço e a um risco 24% maior de adenocarcinoma de esôfago. No entanto, o aumento da gordura corporal explicou apenas uma pequena parcela dos casos de câncer na coorte avaliada, sugerindo que a obesidade pode não ser o único fator que liga os alimentos ultraprocessados a esses tipos de câncer.
Referência: Morales-Berstein, F., Biessy, C., Viallon, V. et al. Ultra-processed foods, adiposity and risk of head and neck cancer and oesophageal adenocarcinoma in the European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition study: a mediation analysis. Eur J Nutr (2023). https://doi.org/10.1007/s00394-023-03270-1