Estudo publicado no JAMA Network mostrou que uma estratégia com kits de autocoleta do papilomavírus humano (HPV) enviados pelo correio (através de distribuição por mala direta ou opt-in) em comparação com a distribuição de materiais educativos isoladamente aumenta a adesão ao rastreamento do câncer do colo do útero.
“As estratégias ideais para aumentar a adesão ao rastreamento do câncer do colo do útero podem diferir conforme o histórico de rastreio do paciente e o ambiente de cuidados. O envio de kits de autocoleta do papilomavírus humano (HPV) para indivíduos que estão com o rastreamento atrasado aumenta a adesão; no entanto, a oferta desses kits para indivíduos aderentes ao rastreio não foi avaliada nos EUA”, afirmaram os autores.
Nesse estudo, os pesquisadores buscaram avaliar a eficácia das abordagens de mala direta e opt-in (que pressupõe a permissão/solicitação do indivíduo) para oferecer kits de autocoleta de HPV a indivíduos com base no histórico de rastreamento do câncer do colo do útero (aderentes ao rastreamento e atualmente atrasados, muito atrasados ou status de rastreio desconhecido).
O ensaio clínico randomizado foi realizado no Kaiser Permanente Washington, um sistema integrado de prestação de cuidados de saúde dos EUA. Mulheres com idade entre 30 e 64 anos, atendidas na atenção primária e sem histerectomia foram identificadas por meio de registros eletrônicos de saúde (RES) e cadastradas entre 20 de novembro de 2020 e 28 de janeiro de 2022, com acompanhamento até 29 de julho de 2022.
Indivíduos estratificados como aderentes ao rastreio e atrasados (por exemplo, no momento da randomização, esses indivíduos foram previamente examinados e deveriam fazer a próxima triagem em ≤3 meses) foram randomizados para receber cuidados habituais (lembretes de pacientes e alertas de registros eletrônicos de saúde do médico [n = 3671] ), educação (cuidados habituais mais materiais educativos sobre triagem [n = 3960]), mala direta (cuidados habituais mais materiais educativos e um kit de autocoleta enviado pelo correio [n = 1482]), ou opt-in (cuidados habituais mais materiais educativos e opção de solicitação de kit [n = 3956]).
Os indivíduos que estavam com a triagem muito atrasada foram randomizados para receber cuidados habituais (n = 5488), educação (n = 1408) ou mala direta (n = 1415). Indivíduos com histórico desconhecido para triagem foram randomizados para receber cuidados habituais (n = 2.983), educação (n = 3.486) ou opt in (n = 3.506).
O endpoint primário foi a conclusão da triagem em 6 meses. Análises primárias compararam participantes de mala direta ou opt-in com indivíduos randomizados para o grupo de educação isolada.
Resultados
As análises por intenção de tratar incluíram 31.355 mulheres randomizadas (idade média [DP], 45,9 [10,4] anos). Entre aquelas mulheres aderentes e atrasadas para a triagem, em comparação com aqueles que receberam apenas educação (1.885 [47,6%]), a conclusão da triagem foi 14,1% (95% CI, 11,2%-16,9%) maior no grupo de mala direta (914 [61,7%]) e 3,5% (95% CI, 1,2%-5,7%) maior no grupo opt-in (2020 [51,1%]).
Entre as mulheres que estavam muito atrasadas, a conclusão da triagem foi 16,9% (95% CI, 13,8%-20,0%) maior no grupo de mala direta (505 [35,7%]) em comparação com a educação isolada (264 [18,8%]). Entre aquelas com história de rastreio desconhecida, o rastreamento foi 2,2% (95% CI, 0,5%-3,9%) maior no grupo opt-in (634 [18,1%]) em comparação com a educação isolada (555 [15,9%]).
Em síntese, em um sistema de saúde dos EUA, a autocoleta por mala direta aumentou o rastreio do câncer do colo do útero em mais de 14% em mulheres que estavam atrasadas ou muito atrasadas para o rastreio do câncer do colo do útero. A abordagem opt-in aumentou minimamente a triagem. “Para aumentar a adesão ao rastreio, os sistemas que implementam a autocoleta do HPV devem dar prioridade à divulgação por mala direta para indivíduos atrasados ou muito atrasados para o rastreio. Para indivíduos com histórico de rastreio desconhecido, são necessários testes de abordagens alternativas de divulgação e esforços adicionais para documentar o histórico de rastreio”, concluíram os autores.
O estudo está registrado em ClinicalTrials.gov; NCT04679675.
Referência: Winer RL, Lin J, Anderson ML, et al. Strategies to Increase Cervical Cancer Screening With Mailed Human Papillomavirus Self-Sampling Kits: A Randomized Clinical Trial. JAMA. 2023;330(20):1971–1981. doi:10.1001/jama.2023.21471