Artigo publicado na Nature Cancer discute os esforços de crowdsourcing para coletar e analisar dados de pacientes com câncer afetados pela pandemia do COVID-19. “O crowdsourcing nos permitiu reunir esforços de mais de 90 instituições, coletando informações e dados clínicos de mais de mil pacientes com COVID-19 e câncer em um mês. Com esforços usuais, teríamos levado meses ou um ano para conseguir os mesmos resultados”, destaca o oncologista Gilberto Lopes (foto), membro do Comitê Diretor do COVID-19 and Cancer Consortium (CCC19) Registry e um dos autores do trabalho.
Citado pela primeira vez em 2006 pelos então editores da revista Wired para ilustrar um novo conceito de interação social baseado na construção coletiva. Com o amplo alcance da comunicação e compartilhamento de informações proporcionado pela internet, o modelo se tornou um fenômeno comum nas mais diferentes áreas, entre elas a oncologia. “Atualmente, aproximadamente 7% de todas as iniciativas de crowdsourcing em saúde são mapeadas para o campo da oncologia. O grande número de participantes e a coleta de dados com maior velocidade, combinado com custos mais baixos e o potencial de inovação rápida, tornam essas iniciativas valiosas na solução de muitas questões desafiadoras em oncologia”, dizem os autores. “Quando conduzida de maneira ética e preocupada com a privacidade, a abordagem pode ser muito benéfica para promover a pesquisa e o atendimento ao paciente”, observam.
Além de gerar uma resposta sem precedentes da comunidade de pesquisa, a emergência de saúde global da COVID-19 criou uma necessidade urgente de projetos que permitam o acesso rápido a grandes quantidades de dados que possam apontar soluções promissoras e aplicáveis em tempo real.
“Até o momento, não há evidências e recomendações claras sobre a interrupção ou atrasos da quimioterapia, imunoterapia, radiação, terapia adjuvante e o uso de cuidados de suporte, por exemplo”. Entre as perguntas que permanecem sem resposta estão o risco de pacientes com câncer infectados com COVID-19; tipos específicos de tumores ou tratamentos que oferecem maior risco; modalidades terapêuticas específicas no contexto da COVID-19; bem como os efeitos do isolamento em ensaios clínicos.
Na tentativa de responder essas questões, o artigo cita diversos esforços de crowdsourcing em oncologia estão em andamento, entre eles o American Society of Hematology Research Collaborative Registry for Hematological Malignancy, que reúne dados de pacientes positivos para COVID-19 que foram ou estão sendo tratados para neoplasias hematológicas; o TERAVOLT (Thoracic Cancers International COVID-19 Collaboration), focado especificamente no câncer torácico; o UK Coronavirus Cancer-Monitoring Project, que investiga a prevalência da COVID-19 em pacientes oncológicos e a associação do sítio tumoral sobre resultados e mortalidade; e a ASCO Survey on COVID-19 in Oncology Registry.
Outra iniciativa destacada é o COVID-19 and Cancer Consortium (CCC19) e sua ferramenta de estudo de coorte, o CCC19 Registry web-based. Criado no Twitter, o Consórcio já compreende mais de 90 centros de câncer e outras organizações em todo o mundo, e envolve uma ferramenta de pesquisa com informações sobre pacientes com câncer e COVID-19 incluindo dados demográficos, fatores clínico-patológicos, diagnóstico e tratamentos de câncer e COVID-19, curso das doenças e resultados, além de dados sobre o profissional de saúde. “Ao coletar rapidamente dados clínicos e biológicos sobre pacientes com câncer, a iniciativa visa melhorar a compreensão do escopo, gravidade e complicações relacionadas à COVID-19 nessa população de pacientes heterogênea e vulnerável”, concluem.
Referência: Desai, A., Warner, J., Kuderer, N. et al. Crowdsourcing a crisis response for COVID-19 in oncology. Nat Cancer (2020). https://doi.org/10.1038/s43018-020-0065-z