Onconews - ctDNA prediz recidiva precoce no melanoma ressecado de alto risco estágio II/III

Biopsia Liquida NET OKUm estudo publicado no Annals of Oncology demonstrou que os níveis de DNA tumoral circulante (ctDNA) foram capazes de predizer piores resultados em pacientes com melanoma ressecado estádio II/III, incluindo intervalos livre de doença significativamente menores, bem como intervalo livre de metástases à distância e sobrevida global em 5 anos. O Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM) comenta os resultados.

 

Os pacientes com melanoma ressecado com estádio II/III de alto risco geralmente desenvolvem metástases à distância. Atualmente, não é possível selecionar quais pacientes irão recorrer ou aqueles que serão curados por cirurgia.

"A maioria dos pacientes com ctDNA detectável recidivaram no período de um ano após a cirurgia, sugerindo que o ctDNA no plasma parece revelar doença metastática oculta que não é evidente na imagem radiológica", escreveram os pesquisadores. "Notavelmente, fomos capazes de identificar pacientes com melanoma em alto risco de recidiva metastática distante e recidiva local, o que é consistente com estudos que mostram que o ctDNA pode sinalizar a doença micrometastática após a quimioterapia neoadjuvante pós-ressecção cirúrgica no câncer de mama e após a cirurgia para o câncer colorretal estádio II", acrescentaram.

O estudo

Os pesquisadores analisaram ctDNA para detectar mutações BRAF e NRAS em plasma obtidas após a cirurgia de 161 pacientes de melanoma de alto risco estádios II/III inscritos no ensaio de adjuvante AVAST-M, que comparou bevacizumabe e placebo em 1.343 pacientes com melanoma estádio II/III de alto risco.

Mutações BRAF ou NRAS no ctDNA foram detectadas (≥ 1 cópia de ctDNA mutado) em 15/132 (11%) das amostras de pacientes com mutação BRAF e 4/29 (14%) das amostras de pacientes com mutação NRAS. Os pacientes com ctDNA detectável tiveram uma redução no intervalo livre de doença (DFI, hazard ratio [HR] 3,12; 95% IC 1,79-5,47; P <0,0001) e intervalo livre de metástases à distância (DMFI; HR 3,22; 95% IC 1,80-5,79; P <0,0001) versus aqueles com ctDNA indetectável.

O intervalo médio livre de doença foi de 0,3 ano para ctDNA detectável em comparação com 4,2 anos para ctDNA indetectável. O intervalo livre de metástases à distância foi de 0,6 anos para ctDNA detectável e ainda não foi alcançado aos 5 anos de seguimento para ctDNA indetectável. O ctDNA detectável permaneceu um preditor significativo após o ajuste para o performance status (PS) e estádio da doença (DFI HR 3,26, 95% IC 1,83-5,83, P <0,0001; DMFI HR = 3,45, 95% IC: 1,88 - 6,34, P <0,0001).

A taxa de sobrevida global (SG) em cinco anos para pacientes com ctDNA detectável foi de 33% (95% IC 14-55%) versus 65% (95% IC 56-72%) para aqueles com ctDNA indetectável. A sobrevida global foi significativamente pior para pacientes com ctDNA detectável (HR 2,63; 95% IC: 1,40-4,96); P = 0,003) e manteve-se significativo após o ajuste para o performance status (HR 2,50, 95% IC: 1,32-4,74, P = 0,005). A mediana de sobrevida global foi de 2,9 anos para o ctDNA detectável em comparação com não alcançado aos 5 anos de seguimento para o ctDNA indetectável.

"Para a maioria dos tumores a detecção do ctDNA circulante pode ser um marcador de que células do tumor já alcançaram a corrente sistêmica, mesmo que não tenham sido detectadas por exames de imagem. Este parece ser um marcador de melanomas mais agressivos e possivelmente de pacientes com maior risco de recorrência. Precisamos ainda aguardar a maturação destes dados bem como uma correlação com análise multivariada comparando ctDNA, com positividade do linfonodo sentinela e sobrevida livre de doença para podermos considerar este como um possível marcador para indicação de tratamento adjuvante", afirmam os especialistas do Grupo Brasileiro deMelanoma (GBM).

Segundo os autores do estudo, a capacidade de prever a progressão para a doença estádio IV é extremamente importante à luz dos achados recentes de que a inibição de checkpoint imune melhora a sobrevida global no melanoma estádio III. "A detecção de ctDNA permite a identificação de um subgrupo de pacientes com alto risco de recidiva precoce e sobrevida inferior, permitindo a estratificação de pacientes a regimes adjuvantes associados a maior toxicidade, mas maior potencial de eficácia", concluíram.

Referência: Circulating tumor DNA predicts survival in patients with resected high risk stage II/III melanoma - R J Lee et al - Annals of Oncology, mdx717, https://doi.org/10.1093/annonc/mdx717 - Published: 03 November 2017