A prestação de cuidados paliativos e de fim de vida, incluindo o alívio da dor, é um direito em todo o mundo. Mas apesar de uma melhora nos resultados em saúde, a carência em cuidados paliativos e cuidados de fim de vida ainda persiste. Essa é a conclusão de uma análise feita por Richard Harding e Irene J Higginson do Cicely Saunders Institute, no Kings College London, Reino Unido.
O estudo publicado no Lancet Global Health (vol 2, nº 7) mostra que o número de pessoas que precisarão de cuidados paliativos para a gestão de doenças crônicas, especialmente o câncer, vai aumentar em países de baixa e média renda. O problema é agravado pelo acesso restrito a serviços médicos e opções potencialmente curativas.
A Estratégia de Saúde Pública de Cuidados Paliativos da Organização Mundial de Saúde (OMS) tem oferecido suporte para ajudar os países a colocar em prática os cuidados paliativos e de fim de vida, mas barreiras importantes comprometem sua aplicação prática. Um mapeamento global ¹ mostrou que apenas 58% dos países têm serviços de cuidados paliativos. O Atlas Global de Cuidados Paliativos 2014²da OMS mostra que menos de 10% das 20 milhões de pessoas que anualmente precisam recebem cuidados paliativos no fim da vida - e 80% delas estão em países de baixa e média renda. Além disso, a Agência Internacional para Pesquisa sobre câncer da GLOBOCAN³ relatou 5,3 milhões de mortes por câncer em 2012 nas regiões menos desenvolvidas.
Os autores defendem que uma estratégia de cuidados paliativos bem sucedida precisa ser baseada em evidências e considerar as preferências e prioridades locais. É preciso levar em conta os ambientes regulatórios de cada região sobre consumo de opioides, crenças culturais e sistemas de saúde.
A base de evidências para o cuidado paliativo tem sido quase sempre gerada em países de alta renda e sugerem que as pessoas preferem morrer em casa, mas este não é o caso na África, por exemplo, o que demonstra a importância de construir evidências específicas para países de baixa e média. Esforços iniciais começam a ser desenvolvidos e alguns estudos de economia da saúde sugerem que os custos associados aos cuidados paliativos foram menores nos países desenvolvidos do que nos países de baixa renda. Sobre a disponibilidade de drogas, a disponibilidade de opioides persiste como um desafio. Em farmácias do leste africano, por exemplo, mesmo analgésicos não-opioides têm seu fornecimento interrompido.
Outra característica presente nos baíses de baixa e média renda é a desinformação sobre questões de saúde. Em Cuba, menos da metade dos pacientes com câncer avançado tinha conhecimento do seu diagnóstico e apenas 9% sabiam que estavam morrendo.
As propostas para a agenda global de saúde de cuidados paliativos também consideram particularidades epidemiológicas e prevêem medidas urgentes para responder a doenças localmente prevalentes, como por exemplo, a tuberculose resistente a drogas.
1 - Lynch T, Connor S, Clark D. Mapping levels of palliative care development: a global update. J Pain Symptom Manage 2013; 45:1094-1106. PubMed
2 - WHO and World Palliative Care Alliance. Global atlas of palliative care at the end of life.http://www.thewpca.org/resources/global-atlas-of-palliative-care/.
3 - GLOBOCAN. GLOBOCAN 2012: estimated global cancer incidence, prevalence and mortality 2012. Lyon, France: The International Agency for Research on Cancer, 2014.
Referência: http://www.thelancet.com