Onconews - Dados do mundo real revelam padrões de tratamento do câncer cervical e utilização de recursos no sistema público de saúde brasileiro

Estudo do mundo real sobre as jornadas dos pacientes com câncer do colo do útero no sistema público de saúde brasileiro apresenta resultados que podem fornecer informações para aprimorar as políticas públicas de acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento. “Até o momento, esta é a maior avaliação sobre a utilização de recursos de saúde para tratamento do câncer cervical no Brasil, usando 7 anos de dados, entre 2014 e 2020”, destaca o trabalho, publicado na Plos One.

Neste estudo retrospectivo, o objetivo foi avaliar os padrões de tratamento, o tempo para início do tratamento e a utilização de recursos de saúde (HCRU) de pacientes com câncer de colo de útero no sistema público de saúde brasileiro (SUS). Dados de janeiro de 2014 a dezembro de 2020 foram coletados do DATASUS, considerando pacientes com os códigos CID-10 C53.

A análise mostra que no período de 2014 a 2020, foram incluídas 206.861 mulheres, das quais 90.073 (43,5%) tinham informações de estadiamento. Das pacientes estadiadas, 60,7% (54.719) tinham doença avançada (estágios III e IV) e os tratamentos mais realizados foram quimiorradioterapia (QRT) (41,6%), cirurgia + QRT (19,1%), radioterapia (RT) apenas (16,8%) e quimioterapia (QT) apenas (13,3%).

Os autores descrevem que a proporção de pacientes submetidos à QT em estágios avançados foi maior do que em estágios não avançados (I e II), em contraste com a RT, que foi mais frequente no estágio I do que no estágio IV. Em cerca de 30% dos casos o tempo mediano para início do tratamento ultrapassou dois meses, independentemente do estágio. A análise revela, ainda, que a conização foi o procedimento cirúrgico mais realizado.

Quando analisado o período de hospitalização por paciente, a taxa mensal para o estágio IV foi duas vezes maior do que no estágio I (0,05 [IC95% 0,05–0,05] e 0,11 [0,11–0,11], respectivamente). A mesma tendência foi observada para consultas ambulatoriais (0,54 [IC95% 0,53–0,55] e 0,96 [0,93–0,98], respectivamente).

Em síntese, os autores concluem que este estudo demonstrou alta proporção de câncer cervical avançado diagnosticado no Brasil e mostrou que a quimiorradioterapia foi o regime de tratamento mais frequentemente empregado, indicando que tanto o uso de quimioterapia quanto de recursos da saúde aumentaram com o estadiamento.

Embora tenha havido melhorias na prevenção do câncer do colo do útero no Brasil com a expansão do programa de rastreamento e a disponibilidade da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), esses resultados reforçam que o diagnóstico e o acesso ao tratamento continuam sendo determinantes da carga do câncer cervical.

“O ônus econômico e social do câncer do colo do útero no Brasil é significativo. Este c como aumentar a cobertura da imunização contra o HPV na população-alvo (meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos) e um rastreamento mais eficaz de mulheres de 25 a 64 anos”, destacam os autores.

A pesquisa tem participação de Thabata Martins Ferreira Campuzano, Maria Amelia Carlos Souto Maior Borba, Paula de Mendonça Batista, Michelle Nadalin, Cicera Pimenta Marcelino, Paula Cristina Pungartnik, Angélica Carreira dos Santos, Letícia Paula Leonart Garmatter, Maria Aparecida do Carmo Rego e Angélica Nogueira-Rodrigues.

Referência:

Campuzano TMF, Borba MACSM, de Mendonça Batista P, Nadalin M, Marcelino CP, Pungartnik PC, et al. (2024) Real world data on cervical cancer treatment patterns, healthcare access and resource utilization in the Brazilian public healthcare system. PLoS ONE 19(10): e0312757. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0312757