Estudo de fase 2 avaliou a eficácia do conjugado anticorpo-droga trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) em pacientes com câncer de mama metastático com superexpressão de HER2 (n = 72, coorte 1), com expressão HER2 low (n = 74, coorte 2) e em pacientes sem expressão da proteína HER2 (n = 40, coorte 3). Os resultados foram publicados por Mosele et al. na Nature Medicine e sugerem que HER2 é um determinante da sensibilidade ao T-DXd, embora uma atividade antitumoral menor também tenha sido observada em um pequeno subgrupo de pacientes sem expressão HER2, sugerindo outros mecanismos de ação. "É possível que no futuro, T-DXd seja aprovado para ANY-HER”, avalia o oncologista Antônio Carlos Buzaid (foto).
Neste estudo (DAISY) foram inscritos pacientes com câncer de mama metastático (mBC) previamente expostos a pelo menos uma linha de quimioterapia no cenário metastático, com pelo menos um local metastático (não ósseo) facilmente acessível para biópsia.
Pacientes com mBC com superexpressão de HER2 foram elegíveis se pré-tratados com taxanos e se resistentes a trastuzumabe e TDM-1. Pacientes com tumores HER2-low ou HER2 com imuno-histoquímica 0 foram elegíveis se pré-tratados com antraciclinas e taxanos. Pacientes com expressão de receptores hormonais (estrogênio e/ou progesterona) tinham que ser resistentes à terapia endócrina e aos inibidores de CDK4/6. A biópsia do tumor foi obrigatória no início e na resistência e foi opcional durante o tratamento. O endpoint primário foi a taxa de resposta objetiva (ORR) avaliada pelo investigador (RECIST 1.1). Endpoints secundários incluíram a duração da resposta, sobrevida livre de progressão (SLP), sobrevida global (SG) e taxa de benefício clínico avaliados no conjunto completo de análise e por coorte. A segurança foi avaliada na população de segurança e por coorte.
Na população do conjunto de análise (n = 177), os autores descrevem que a taxa de resposta objetiva confirmada foi de 70,6% (intervalo de confiança de 95% (IC) 58,3–81) na coorte 1; de 37,5% (95% CI 26,4–49,7) na coorte 2 e de 29,7% (95% CI 15,9–47) na coorte 3. O endpoint primário foi alcançado nas coortes 1 e 2.
Os resultados relatados mostram que não foram observados novos sinais de segurança.
Durante o tratamento, a análise revela que os tumores que expressam HER2 (n = 4) apresentaram forte coloração de T-DXd. Por outro lado, as amostras HER2 com imuno-histoquímica 0 (n = 3) apresentaram nenhuma ou muito pouca coloração T-DXd (coeficiente de correlação de Pearson r = 0,75, P = 0,053). Entre pacientes com câncer de mama metastático HER2 com imuno-histoquímica 0, 5 de 14 (35,7%, 95% CI 12,8–64,9), com expressão de ERBB2 abaixo da mediana, apresentaram resposta objetiva confirmada em comparação com 3 de 10 (30%, 95% CI 6,7– 65.2) daqueles com expressão de ERBB2 acima da mediana.
“Embora a expressão de HER2 seja um determinante da eficácia de T-DXd, nosso estudo sugere que mecanismos adicionais também podem estar envolvidos”, analisam os autores.
“O estudo DAISY demonstra que mesmo tumores sem aparente expressão de HER-2 podem responder a T-DXd e que quanto maior a expressão, maior a eficácia do T-DXd.
Uma taxa de resposta de 30% para tumores com expressão zero de HER-2 é clinicamente importante, principalmente em população extensamente pré-tratada. É possível que no futuro, T-DXd seja aprovado para ANY-HER”, avalia o oncologista Antonio Carlos Buzaid, diretor médico geral do Centro de Oncologia da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Este estudo está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT04132960.
Referência: Mosele, F., Deluche, E., Lusque, A. et al. Trastuzumab deruxtecan in metastatic breast cancer with variable HER2 expression: the phase 2 DAISY trial. Nat Med (2023). https://doi.org/10.1038/s41591-023-02478-2