Estudo liderado por pesquisadores brasileiros discute os desafios e vantagens da realização de estudos clínicos de oncologia de precisão na América Latina, e propõe sugestões para superar os principais entraves e aumentar o número desses ensaios na região. Publicado no periódico The Oncologist, o trabalho tem como primeiro autor Roberto Jun Arai (foto), do Núcleo de Pesquisa do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). A oncologista Rachel Riechelmann, Diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center, é autora sênior do estudo.
A participação de pacientes em estudos de oncologia de precisão precisa preencher critérios baseados na seleção molecular, o que limita o recrutamento, aumenta os custos e obriga que os estudos tenham um caráter multicêntricos e multinacional.
Nesse trabalho, os pesquisadores analisam as exigências específicas em relação aos bancos de tumores no Brasil, Peru, Argentina, Equador, Uruguai, Chile, Colômbia e Costa Rica, e recomendam algumas ações para personalizar e impulsionar os estudos em oncologia de precisão (POTs) em toda a América Latina.
“Os estudos de oncologia de precisão devem ser avaliados de várias perspectivas além de padrões científicos e éticos, como infraestrutura adequada, compreensão da epidemiologia local, nível adequado de treinamento em pesquisa do pessoal envolvido e capacidade de articular departamentos distintos”, afirmam os autores.
Entre as principais recomendações, estão a educação da população de pacientes sobre os riscos e vantagens da participação em estudos de oncologia de precisão; a realização de esforços para acelerar o processo de aprovação de testes na América Latina, estabelecendo cronogramas rápidos para avaliação de estudos por diferentes agências reguladoras; e oferta de treinamento contínuo de alta qualidade com foco especial em estudos de oncologia de precisão, fornecido por instituições que participam ensaios clínicos com ou sem apoio financeiro da indústria. “Os investigadores locais devem ser qualificados para avaliar se o estudo é adequado/ético para ser realizado na instituição, de acordo com as normas internacionais e regulamentações locais. O papel do investigador é garantir a viabilidade de condução do estudo em sua instituição”, defendem.
Os autores observam que os estudos em oncologia de precisão são viáveis na América Latina, mas ainda são limitados a poucos pesquisadores e instituições de centros acadêmicos. “O artigo promove o entendimento e compreensão de um cenário de grande heterogeneidade de infraestrutura, capacitação de equipes e conhecimento dos investigadores da LATAM para conduzir estudos de precisão. É importante que esta região seja vista como uma região promissora, organizada e competitiva, dentro de uma análise realista”, conclui Arai.
Referência: Personalizing Precision Oncology Clinical Trials in Latin America: An Expert Panel on Challenges and OpportunitiesPanel on Challenges and Opportunities - Roberto Jun Arai, Rodrigo Santa Cruz Guindalini, Andrea Sabina Llera, Juan Manoel O’Connor, Bettina Muller, Mauricio Lema, Helano Freitas, Tannia Soria, Lucía Delgado, Denis Landaverde, Paola Montenegro, Rachel Riechelmann - DOI: 10.1634/theoncologist.2018-0318