José Eluf Neto (foto), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é autor sênior de estudo que destaca o acesso restrito à colposcopia no sistema público de saúde no Estado de São Paulo. “O cenário compromete a qualidade da triagem e a questão deve ser priorizada no planejamento dos serviços”, alertam os autores, em artigo publicado em janeiro no periódico Cadernos de Saúde Pública.
Dados já reportados mostram que a carga do câncer do colo do útero é amplamente influenciada pelo acesso diferenciado ao rastreamento. “No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o rastreamento gratuito com o Papanicolau. O acesso a esse exame expandiu substancialmente e, em alguns capitais estaduais mais de 80% da população-alvo é coberta. No entanto, a incidência de câncer do colo do útero no Brasil permanece elevada na comparação com alguns países com cobertura equivalente”, descreve a publicação.
Para os autores, uma explicação para esse achado pode ser o acesso limitado ao diagnóstico e tratamento após um resultado anormal do esfregaço. “Mulheres com resultados citológicos sugestivos de lesão de alto grau devem ser encaminhadas diretamente para colposcopia”, explicam.
Para avaliar como está a realidade na prática da assistência, os pesquisadores estimaram a proporção de mulheres que acessou a colposcopia dentro de seis meses após um resultado anormal no teste de Papanicolau, durante uma triagem de rotina no Estado de São Paulo. Nesta análise retrospectiva foram considerados os registros do Sistema de Informação do Controle do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO), que contém os resultados de Papanicolau, e do Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SIA/SUS), com os registros das colposcopias.
A partir dessas bases de dados os pesquisadores identificaram uma coorte de mulheres com idade ≥25 anos com Papanicolau anormal entre 1º de maio de 2014 e 30 de junho de 2014. Após a exclusão dos casos prevalentes, os autores descrevem que 671 (38,1%) mulheres apresentavam citologia anormal quando o seguimento foi censurado aos seis meses.
“No Estado de São Paulo, apenas 38% das mulheres com esfregaços anormais acessaram os serviços de colposcopia em até seis meses. Enquanto isso, dados agregados sugerem que muitas colposcopias são realizadas em mulheres sem indicação. Isso é um desperdício de recursos e prejudicial para as mulheres sub e superexaminadas”, concluem.
Este estudo faz parte de um projeto mais amplo que investiga as desigualdades no acesso aos serviços de triagem no Brasil.
A íntegra do artigo está disponível, em acesso aberto.
Referência: Cad. Saúde Pública 38 (1) • 2022 • https://doi.org/10.1590/0102-311X00304820