A carga de doenças atribuíveis a fatores de riscos (FR) no Brasil variou consideravelmente de 1990 a 2019 entre homens e mulheres, faixas etárias e estados, mas importantes fatores de risco para câncer e doenças cardiovasculares continuam a preocupar, como tabaco, obesidade e consumo de álcool. É o que mostram resultados reportados na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
Neste estudo, a carga atribuível aos diferentes FR foi estimada de acordo com o sexo, considerando taxas de mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade (DALYs). Para destacar as mudanças ocorridas entre 1990 e 2019, a análise incorpora um ranking dos FRs, segundo sexo e faixa etária, bem como um ranking dos FRs para cada um dos 27 estados do Brasil em 2019. As FRs que mais mudaram entre 1990 e 2019 foram analisadas de acordo com o Índice Sociodemográfico (IDE), que mede renda per capita, fecundidade e educação. O índice varia de 0 (menos desenvolvido) a 1 (mais desenvolvido) e permite a comparação entre diferentes realidades geográficas de acordo com seu desenvolvimento.
Os resultados reportados por Malta et al mostram que fatores metabólicos, como hipertensão arterial, foram os principais FRs de mortalidade no país, tanto para homens quanto para mulheres. Em relação ao DALYs, os FRs mais relevantes foram índice de massa corporal (IMC) elevado para mulheres e consumo de álcool para homens.
Os autores descrevem que o tabaco continua sendo um dos fatores de risco mais importantes para mortalidade e para a carga de doenças, especialmente para o sexo masculino. “A análise por estado mostra que IMC elevado e pressão arterial elevada são FR importantes para mortalidade e DALYs em todo o Brasil. A desnutrição infantil e materna, no entanto, foi responsável pela maior taxa de DALY em dez estados, enquanto o tabaco foi o principal FR no Rio Grande do Sul e São Paulo”, reportam.
Em síntese, este estudo revela grandes desigualdades regionais, assim como destaca a importância de políticas públicas de promoção da saúde e ações preventivas primárias para reverter o cenário atual. “Nossos achados apontam para o ranking de exposição da população brasileira a FRs selecionados e a quantificação do impacto dessa exposição na saúde, destacando riscos metabólicos e comportamentais. Essas evidências podem ajudar a consolidar e fortalecer políticas públicas que promovam estilos de vida saudáveis e auxiliem na redução de fatores de risco, contribuindo assim para a melhoria da saúde da população brasileira e redução da mortalidade e da carga de doenças”, concluem os autores.
O projeto GBD-Brasil foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), registrado sob o número de Projeto CAAE - 62803316.70000.5149.
Referências: Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 55 (suppl 1) • 2022 • https://doi.org/10.1590/0037-8682-0262-2021