Estudo que investiga a eficácia e segurança de trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) no adenocarcinoma gástrico ou de junção gastroesofágica (GEJ) publicou resultados no Journal of Clinical Oncology (JCO), com evidências preliminares de que T-DXd tem atividade clínica em pacientes com adenocarcinoma gástrico/GEJ HER2-low fortemente pré-tratados. O oncologista Duilio Rocha Filho (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio (UFC-CE), discute os resultados.
Neste estudo (DESTINY-Gastric01), Yamaguchi et al. avaliaram duas coortes de pacientes com adenocarcinoma gástrico/GEJ localmente avançado ou metastático HER2-low (coorte 1, imuno-histoquímica 2+/hibridização in situ-negativa; coorte 2, imuno-histoquímica 1+) tratados com pelo menos dois regimes anteriores, incluindo fluoropirimidina e platina, mas terapia anti -HER2. Os pacientes elegíveis receberam T-DXd na dose de 6,4 mg/kg por via intravenosa uma vez a cada 3 semanas. O endpoint primário foi a taxa de resposta objetiva confirmada por revisão central independente.
Entre fevereiro de 2018 e fevereiro de 2019, foram incluídos 21 pacientes na coorte 1 (HER2 IHC 2+/ISH–) e 24 na coorte 2 (IHC 1+) a partir de 27 centros no Japão e na Coreia do Sul. Desse total, foram elegíveis 20 pacientes (95,2%) na coorte 1 e 24 pacientes (100%) na coorte 2 com status HER2 confirmado centralmente para receber T-DXd. A taxa de resposta objetiva confirmada foi de 26,3% (95% CI, 9,1 a 51,2), com cinco respostas parciais na coorte 1 e 9,5% (95% CI, 1,2 a 30,4) na coorte 2, com duas respostas parciais. Treze pacientes (68,4%) na coorte 1 e 12 (60,0%) na coorte 2 apresentaram redução no tamanho do tumor. Os autores descrevem que a sobrevida global mediana foi de 7,8 meses (95% CI, 4,7 a não avaliável) na coorte 1 e de 8,5 meses (95% CI, 4,3 a 10,9) na coorte 2, enquanto a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 4,4 meses (95% CI, 2,7 a 7,1) e 2,8 meses (95% CI, 1,5 a 4,3), respectivamente.
A duração mediana do tratamento foi de 4,2 (intervalo, 1,3‐10,5) meses na coorte 1 e de 2,8 (intervalo, 0,7-14,9) meses na coorte 2.
Em relação ao perfil de segurança, os eventos adversos emergentes do tratamento de grau ≥ 3 foram anemia (30% e 29,2%), diminuição da contagem de neutrófilos (25,0% e 29,2%) e diminuição do apetite (20,0% e 20,8%). Doença pulmonar intersticial/pneumonite relacionada ao tratamento ocorreu em um paciente em cada coorte (grau 1 ou 2). Não houve mortes.
“Este estudo fornece evidências preliminares de que T-DXd tem atividade clínica em pacientes com adenocarcinoma gástrico/GEJ HER2-low fortemente pré-tratados”, concluem os autores. Em síntese, T-DXd demonstrou atividade clínica em pacientes com adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica HER2 low altamente pré-tratados e a segurança foi consistente com o perfil administrável de T-DXd, destacam os autores.
Duilio observa que o componente inibidor de topoisomerase da molécula de T-DXd é altamente permeável à membrana celular, o que lhe confere a capacidade de acionar tanto as células HER2-positivas quanto as células adjacentes, mesmo que tenham baixa expressão de HER2 (HER2-low). “A atividade antitumoral da T-DXd na neoplasia HER2-low foi demonstrada em pacientes com câncer de mama, o que representou um dos maiores avanços na oncologia em 2022. Em outras doenças, o uso de T-DXd em pacientes HER2-low permanece experimental”, afirma.
“Uma subanálise do estudo DESTINY-Gastric 01 traz luz sobre essa questão em pacientes com câncer gástrico previamente tratados. Os autores encontraram uma taxa de resposta de 26,3% na população HER2 2+/ISH-negativo (coorte A). Apesar de inferior à resposta encontrada em pacientes HER2 3+ ou HER2 2+/ISH positivo incluídos no estudo, o resultado se compara favoravelmente com dados históricos de doentes com câncer gástrico politratado, cuja taxa de resposta é inferior a 10%. Já no grupo HER2 1+ (coorte B), a taxa de resposta de 9,5% não atingiu o critério de atividade pré-estabelecido pelos autores e exige investigação adicional”, observa.
Para o especialista, o estudo deve ser interpretado com cautela porque analisou apenas 44 pacientes, careceu de grupo controle nas duas coortes exploratórias e foi conduzido apenas com pacientes orientais. “Ainda assim, traz sinais preliminares de atividade na população HER2 low, em particular no grupo HER2 2+/ISH negativo. Estudos randomizados são necessários para determinar a eficácia de T-DXd em pacientes com câncer gástrico e baixa expressão de HER2”, conclui.
A superexpressão ou amplificação de HER2 ocorre em aproximadamente um quinto dos casos de câncer gástrico ou de junção gastroesofágica.
A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.
Informações na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT03329690
Referência: Yamaguchi K, Bang YJ, Iwasa S, Sugimoto N, Ryu MH, Sakai D, Chung HC, Kawakami H, Yabusaki H, Lee J, Shimoyama T, Lee KW, Saito K, Kawaguchi Y, Kamio T, Kojima A, Sugihara M, Shitara K. Trastuzumab Deruxtecan in Anti-Human Epidermal Growth Factor Receptor 2 Treatment-Naive Patients With Human Epidermal Growth Factor Receptor 2-Low Gastric or Gastroesophageal Junction Adenocarcinoma: Exploratory Cohort Results in a Phase II Trial. J Clin Oncol. 2022 Nov 15:JCO2200575. doi: 10.1200/JCO.22.00575. Epub ahead of print