Gustavo Nader Marta (foto), radio-oncologista do Hospital Sírio-Libanês, é primeiro autor de análise retrospectiva que utiliza um grande banco de dados nacional de base populacional para determinar as taxas de sobrevida de pacientes com diagnóstico de glioblastoma no Brasil considerando a influência da idade, modalidades de tratamento, práticas públicas e privadas e nível de escolaridade. Os resultados foram publicados na Lancet Regional Health – Americas.
A maioria dos pacientes com diagnóstico de glioblastoma desenvolve doença recorrente, o que resulta em um mau prognóstico. Além disso, a literatura sobre os padrões de tratamento e resultados de sobrevida de pacientes com glioblastoma em países de baixa e média renda é limitada.
Nesse estudo, pacientes com diagnóstico de glioblastoma de 1999-2020 foram identificados no banco de dados da Fundação Oncocentro de São Paulo para criar uma coorte retrospectiva. Os pacientes foram classificados de acordo com a idade, nível de escolaridade, modalidades de tratamento e prática médica. Em um modelo de riscos proporcionais de Cox controlado por fatores de confusão para a sobrevida global, foram avaliadas a razão de risco e o intervalo de confiança de 95% de sobrevida global.
Foram incluídos 4.511 pacientes. A mediana de sobrevida para pacientes tratados em serviços públicos e privados foram de 8 e 17 meses (p <0,001), respectivamente. Pacientes jovens tiveram mediana de sobrevida global mais longa (sobrevida global: 18 a 40 anos, 41 a 60 anos, 61 a 65 anos, 66 a 70 anos e mais de 70 anos foi de 22 meses, 10 meses, 6 meses, 5 meses, 4 meses, respectivamente - p <0,001).
No geral, os tratamentos combinados foram associados a uma mediana de sobrevida mais alta em comparação com a monoterapia. Além disso, quanto maior a escolaridade, maior a mediana de sobrevida observada (4 meses para analfabetos versus 14 meses para nível superior completo). Nas análises multivariadas, os preditores independentes significativos para a sobrevida global foram o ambiente de prática, o nível educacional, a idade e as modalidades de tratamento.
“Nosso estudo é o primeiro a relatar os resultados de sobrevida em uma coorte de base populacional de pacientes com glioblastoma no Brasil. Os resultados indicam que um ambiente de prática pública, um nível educacional mais baixo, uma idade mais avançada e a ausência de tratamento multimodal foram fatores de risco independentes de pior sobrevida global”, observam os autores. “O artigo traz dados importantes do cenário brasileiro e que apontam fatores cuja intervenção pode melhorar o diagnóstico, o tratamento e o prognóstico dos pacientes com essa doença grave”, concluem.
Referência: Gustavo Nader Marta, Fabio Ynoe Moraes, Olavo Feher, Eduardo de Arnaldo Silva Vellutini, Felix Hendrik Pahl, Marcos de Queiroz Teles Gomes, Alberto Carlos Capel Cardoso, Iuri Santana Neville, Samir Abdallah Hanna, Daniel Moore Freitas Palhares, Manoel Jacobsen Teixeira, Marcos Vinícius Calfat Maldaun, Allan Andresson Lima Pereira, Social determinants of health and survival on Brazilian patients with glioblastoma: a retrospective analysis of a large populational database, The Lancet Regional Health - Americas, 2021, 100066, ISSN 2667-193X, https://doi.org/10.1016/j.lana.2021.100066.