Onconews - Diagnóstico precoce ou em excesso?

Mamografia_1.jpgA adoção do rastreamento por mamografia em escala populacional não é universalmente aceita, mas a controvérsia se acentua agora diante dos resultados recém divulgados pelo grupo de pesquisadores canadenses, no estudo que conclui que a mamografia não tem ajudado a reduzir as taxas de morte por câncer de mama.

O estudo foi publicado no British Medical Journal na edição de 11 de fevereiro e avalia que o rastreamento mamográfico leva a um excesso de diagnóstico e, consequentemente, a um tratamento desnecessário.
A investigação compreendeu 89.835 mulheres com idades entre 40 e 59 anos, acompanhadas por um período de 25 anos. As mulheres foram aleatoriamente designadas para realizar mamografia anualmente, por cinco anos, enquanto o grupo de controle foi avaliado através do exame físico de rotina, anualmente. Todas as participantes com idades entre 50 e 59 anos tiveram um exame físico da mama a cada ano.
Durante os cinco anos do rastreamento mamográfico, 666 casos de câncer invasivo foram identificados no braço submetido ao rastreamento por mamografia (n=44.925) e 524 no braço controle (n= 44.910). Houve 180 mortes pela doença no grupo de mamografia e 171 entre as mulheres submetidas ao controle.
Ao longo de todo o período da investigação, liderada por Anthony B. Miller, da Universidade de Toronto, foram diagnosticados 3.250 casos de câncer entre as mulheres do grupo de screening e 3.133 no grupo controle. Desse universo, 500 morreram da doença no braço de rastreamento, enquanto o braço controle teve 505 mortes por câncer de mama. Assim, as taxas de morte foram similares nos dois braços (HR: 0.99, 95% CI 0.88 to 1.12).
Depois de 15 anos de acompanhamento, um excedente de 106 casos de câncer de mama foi registrado no braço da mamografia (106/484), parcela que na análise dos investigadores corresponde ao excesso de diagnósticos – o equivalente a um caso de overdiagnosis a cada 424 mulheres rastreadas por mamografia.
A investigação canadense foi celebrada pela amostra robusta, certamente um dos pontos altos do estudo, ao lado do longo tempo de seguimento, mas também foi alvo de críticas.
Os resultados diferem de estudos anteriores, incluindo as linhas de conduta do Preventive Services Task Force dos EUA, que estimou que o rastreio por mamografia reduz o risco relativo de morte em cerca de 15% em mulheres com idades entre 40-59 anos.
Otis Brawley, diretor médico da American Cancer Society, disse que o estudo canadense é um pedaço de informação em um grande volume de evidências e que não afeta as recomendações atuais.
A American Cancer Society recomenda a mamografia e o exame clínico da mama a cada ano, em mulheres a partir dos 40 anos.
No Brasil, o INCA recomenda a mamografia a partir dos 50 anos, a cada dois anos.

Fonte: BMJ 2014;348:g366
Disponível aqui