Estudo de coorte realizado em pacientes com melanoma avançado no Reino Unido e Holanda sugere que uma dieta mediterrânea enriquecida com grãos integrais, peixes, nozes, frutas, legumes e vegetais está associada a uma maior probabilidade de resposta aos inibidores de checkpoint imunológico. Os resultados foram publicados no JAMA Oncology.
“Os inibidores de checkpoint imunológico (ICIs) melhoraram a sobrevida de pacientes com melanoma avançado, com respostas duradouras observadas em 40% a 60% dos pacientes, dependendo dos regimes de tratamento. No entanto, ainda há grande variabilidade na resposta ao tratamento com ICIs, e os pacientes apresentam uma série de eventos adversos imunorrelacionados de diferentes graus. A nutrição, por meio de sua associação com o sistema imunológico e com o microbioma intestinal, é um alvo atraente, e ainda pouco explorado, com potencial para melhorar a eficácia e a tolerabilidade aos ICIs”, sustentam os autores.
O estudo de coorte multicêntrico (estudo PRIMM) foi conduzido em centros de câncer na Holanda e no Reino Unido e incluiu 91 pacientes com melanoma avançado sem tratamento prévio com inibidores de checkpoint imunológico e receberam ICIs entre 2018 e 2021. O objetivo foi investigar associações entre diferentes padrões alimentares e resposta aos inibidores de checkpoint, bem como eventos adversos imunorrelacionados (irAEs).
Os pacientes foram tratados com monoterapia anti-PD1 e anti-CTLA4 ou terapia combinada. A ingestão alimentar foi avaliada por meio de questionários de frequência alimentar antes do tratamento. Os endpoints clínicos foram definidos como taxa de resposta global (ORR), sobrevida livre de progressão em 12 meses (PFS-12) e eventos adversos relacionados ao sistema imunológico de grau 2 ou superior.
Resultados
O estudo incluiu 44 participantes holandeses (idade média [DP], 59,43 [12,74] anos; 22 mulheres [50%]) e 47 participantes britânicos (idade média [DP], 66,21 [16,63] anos; 15 mulheres [32 %]). Dados de dieta e clínicos foram coletados prospectivamente de 91 pacientes que receberam ICIs entre 2018 e 2021 para melanoma avançado. Modelos aditivos generalizados logísticos revelaram associações lineares positivas entre um padrão alimentar mediterrâneo rico em grãos integrais, peixe, nozes, frutas e vegetais e a probabilidade de ORR e PFS-12 (probabilidade de 0,77 para ORR; P = ,02; taxa de falsa descoberta, 0,032; graus de liberdade efetivos, 0,83; probabilidade de 0,74 para PFS-12; P = ,01; taxa de falsa descoberta, 0,021; graus de liberdade efetivos, 1,54).
“Este estudo de coorte encontrou uma associação positiva entre uma dieta mediterrânea, um modelo amplamente recomendado de alimentação saudável, e a resposta ao tratamento com inibidores de checkpoint. Um mecanismo potencial subjacente à associação entre dieta e resposta à imunoterapia é o microbioma intestinal. Estudos pré-clínicos mostraram atividades imunomoduladoras e antitumorais de vários nutrientes, incluindo fibras, polifenóis e antioxidantes, que são mediados pelo microbioma intestinal. A dieta mediterrânea tem sido associada a um aumento da abundância de bactérias produtoras de ácidos graxos de cadeia curta que demonstraram ser preditivas da resposta à imunoterapia em vários estudos”, observaram os autores.
“Grandes estudos prospectivos de diferentes regiões geográficas são necessários para confirmar os achados e elucidar ainda mais o papel da dieta no contexto da imunoterapia”, concluíram.
O trabalho foi apoiado pela Seerave Foundation e pela Dutch Cancer Society.
Referência: Bolte LA, Lee KA, Björk JR, et al.Association of a Mediterranean Diet With Outcomes for Patients Treated With Immune Checkpoint Blockade for Advanced Melanoma. JAMA Oncol. Published online 16 February 2023. doi:10.1001/jamaoncol.2022.7753