Estudo publicado em outubro no Journal of the National Cancer Institute por pesquisadores da Mayo Clinic Cancer Center indica que a composição genética dos tumores de câncer de cólon e as taxas de sobrevida dos pacientes são diferentes de acordo com a raça.
"Os resultados colocam a questão da raça com mais destaque e sugerem que a biologia do câncer pode contribuir para essas diferenças baseadas na raça" diz o co-autor principal do estudo, Harry Yoon, oncologista da Mayo Clinic. "Embora seja muito cedo para mudar a nossa forma de tratar esses pacientes, nossos resultados indicam que estudos futuros são necessários para examinar mais de perto potenciais drivers biológicos dessas diferenças."
É sabido há muito tempo que os negros desenvolvem câncer de cólon em uma idade mais precoce e estão em maior risco de morrer da doença em comparação com os brancos. No entanto, tem sido difícil identificar porque existem essas diferenças de sobrevida.
Algumas das possíveis razões para esta disparidade incluem fatores socioeconômicos como diagnóstico tardio, diminuição do acesso aos cuidados de saúde e tratamento abaixo do ideal.
Métodos e resultados
Yoon e colegas concentraram seus esforços em descobrir se os cânceres de cólon são geneticamente diferentes com base na raça, bem como se essas diferenças existem em taxas de recorrência. Para isso, examinaram dados de um grande ensaio clínico - Alliance N0147 - que incluiu pacientes com câncer de cólon estadio III de muitos centros na América do Norte que se submeteram à cirurgia para remoção do tumor e posterior quimioterapia.
"O papel da biologia dos tumores de cólon de acordo com a raça não foi examinado de forma extensiva. Esta biologia pode se refletir na composição genética dos tumores, bem como se o câncer retorna, e com que rapidez, após o tratamento", afimou Yoon.
As mutações BRAF V600E e KRAS foram analisadas em pacientes com câncer de cólon nódulo positivo (n = 3305) tratados com quimioterapia baseada em FOLFOX em um ensaio adjuvante (Alliance N0147). Categorias raciais incluíram asiáticos, negros ou brancos. Modelos de Cox foram utilizados para estimar a sobrevida livre de doença (SLD) e tempo de recorrência (TR). Todos os testes estatísticos foram bilaterais.
Como parte do estudo, os pacientes forneceram uma autodescrição da sua raça como brancos, asiáticos, negro ou afro-americano. Os pesquisadores então avaliaram os tumores dos participantes para verificar se uma mutação estava presente nos genes relacionados ao câncer BRAF e KRAS. Eles também observaram se o câncer havia retornado após o tratamento.
A análise dos dados mostrou que os tumores de brancos, negros e asiáticos eram diferentes em termos da frequência de mutações nos genes BRAF e KRAS. A frequência da mutação BRAF mutação em tumores de pacientes brancos (13,9%) era o dobro dos tumores de asiáticos ou negros. As taxas de mutação KRAS foi maior nos tumores de negros (44,1%). Tumores KRAS/BRAF selvagem foram mais comuns entre os asiáticos (66,7%) (P total <0,001).
Em comparação com os brancos, os negros tinham menor sobrevida livre de doença entre os pacientes com menos de 50 anos de idade (hazard ratio [HR] = 2,84, 95% intervalo de confiança [IC] = 1,73 a 4,66) ou com doença N1 (HR = 1,54, IC 95% = 1,04 para 2,29), independente do BRAF, KRAS e outras variáveis.
Quase metade dos pacientes negros mais jovens experimentaram recidiva em cinco anos, em comparação com apenas 22% a 35% dos pacientes brancos ou asiáticos de qualquer idade.
Esta diferença não pode ser explicada pelas mutações genéticas encontradas com mais frequência nos tumores de diferentes raças. Os pesquisadores ajustaram para uma série de outros potenciais fatores de confusão, como o grau do tumor, o grau de comprometimento dos linfonodos, profundidade de invasão do tumor, índice de massa corporal, a localização do tumor no cólon, história de tabagismo, e anomalias em genes de reparo; no entanto, nenhum destes fatores pareceu afetar o resultado para jovens negros.
"Como todos os pacientes foram tratados e tiveram sua doença acompanhada em um ensaio clínico, tratamento abaixo do ideal, diferenças no estadio do câncer ou o acesso reduzido aos cuidados não pode explicar adequadamente a disparidade", afirmou Yoon.
Além dos dados publicados que indicam que um número limitado de genes são preferencialmente mutados em tumores de cólon de pacientes negros comparados com brancos, o estudo revelou diferenças nas frequências das mutações dos oncogenes BRAF e KRAS que fornecem informações prognósticas em pacientes com câncer de cólon. "Nossos dados fornecem mais provas de que os cânceres de cólon de negros são intrinsecamente diferentes e estão associados com o comportamento clínico mais agressivo em pacientes jovens."
Os co-autores incluem Qian Shi, Steven Alberts, Stephen Thibodeau, e Daniel Sargent, da Clínica Mayo; e Richard Goldberg, da Universidade Estadual de Ohio.
O estudo foi apoiado pelo National Cancer Institute Senior Scientist Award (K05CA-142885) e pelo North Central Cancer Treatment Group (NCCTG) Biospecimen Resource Grant (CA-11474) do National Institutes of Health. Apoio a estudos correlatos também foi fornecido por fundos da Bristol-Myers Squibb, ImClone Systems, Sanofi-Aventis e Pfizer.
Referência: Racial Differences in BRAF/KRAS Mutation Rates and Survival in Stage III Colon Cancer Patients