Onconews - Diretrizes de tratamento da fadiga em adultos sobreviventes de câncer

Quais são as abordagens de tratamento atualmente recomendadas para o manejo da fadiga relacionada ao câncer em adultos sobreviventes da doença? A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e a Sociedade de Oncologia Integrativa (SIO) reuniram e examinaram as evidências publicadas desde a diretriz publicada em 2014 para oferecer recomendações atualizadas para o manejo da fadiga relacionada ao câncer. Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology (JCO). O oncologista Ricardo Caponero (foto) comenta os resultados.

A fadiga relacionada ao câncer (do inglês, CRF - cancer-related fatigue) é um dos efeitos colaterais mais comuns e angustiantes do diagnóstico e tratamento do câncer. É uma sensação persistente, muitas vezes avassaladora, de exaustão física, mental e/ou emocional e difere da fadiga causada pelo esforço, pois não é necessariamente aliviada pelo descanso ou pelo sono.

A fadiga relacionada ao câncer pode afetar pessoas com câncer em qualquer estágio da doença e em qualquer momento da trajetória do câncer, desde o diagnóstico até a sobrevida a longo prazo. “As estimativas de prevalência indicam que 30%-60% dos pacientes apresentam fadiga moderada a grave durante o tratamento e 20%-30% continuam a sentir fadiga durante meses ou anos após a conclusão do tratamento”, afirmam os autores. “Vários fatores contribuem para a fadiga relacionada ao câncer, incluindo o próprio câncer, os efeitos dos tratamentos, comorbidades físicas e psicológicas (por exemplo, depressão), outros sintomas físicos (por exemplo, dor, distúrbios do sono), inatividade física e descondicionamento, e problemas cognitivos, emocionais e comportamentais”, acrescentam.

Para a elaboração das diretrizes, foi convocado um painel multidisciplinar de especialistas em oncologia clínica, oncogeriatria, medicina interna, psicologia, psiquiatria, medicina integrativa, enfermagem, entre outros especialistas envolvidos nos cuidados de pacientes oncológicos. O desenvolvimento das diretrizes envolveu uma revisão sistemática da literatura de ensaios clínicos randomizados (ECR) publicados entre 2013 e 2023.

A base de evidências consistiu em 113 ensaios clínicos randomizados. Atividade física, terapia cognitivo-comportamental (TCC) e programas baseados em mindfulness levaram a melhorias na fadiga relacionada ao câncer durante e após a conclusão do tratamento. Tai chi, qigong e ginseng americano mostraram benefícios durante o tratamento, enquanto ioga, acupressão e moxabustão ajudaram a controlar a fadiga relacionada ao câncer após a conclusão do tratamento.

O uso de outros suplementos dietéticos não melhorou a fadiga relacionada ao câncer durante ou após o tratamento do câncer. Nos pacientes em processo de terminalidade (fim de vida), a terapia cognitivo-comportamental e os corticosteroides mostraram benefícios. A qualidade das evidências foi baixa a moderada para as intervenções de gestão da fadiga relacionada ao câncer.

Informações adicionais estão disponíveis em www.asco.org/survivorship-guidelines.

O estudo em contexto

Por Ricardo Caponero, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz 

A fadiga é um dos principais eventos adversos do tratamento oncológico, superando náuseas e vômitos, com grande impacto na qualidade de vida e, o mais importante, podendo persistir por meses ou anos mesmo depois do término do tratamento oncológico e com a doença em remissão.
 
Mesmo durante o tratamento, as evidências de efetividade para intervenções farmacológicas, tipo modafanil e derivados, anfetaminas e etc.. eram muito limitadas. O ajuste da quantidade de atividades (adequação de agenda) e métodos não farmacológicos são as principais recomendações.
 
A persistência da fadiga após o tratamento costuma preocupar muito os pacientes, que a interpretam como possível persistência de doença, e dificultam o retorno às suas atividades sociais e profissionais.
 
É crença quase unânime que o uso de vitaminas pode ajudar nesse contexto, mas a revisão da ASCO mostra que o uso de outros suplementos dietéticos não melhorou a fadiga durante ou após o tratamento do câncer.
 
Uma base de evidências consistiu em 113 ensaios clínicos randomizados revelou que a atividade física regular, terapia cognitivo-comportamental  e programas baseados em mindfulness levaram a melhorias na fadiga relacionada ao câncer durante e após a conclusão do tratamento e são as principais recomendações que podemos fazer aos nossos pacientes.
 
Em relação à terapia cognitivo-comportamental é difícil discernir se a melhora é diretamente na fadiga, ou no alívio da angústia e sofrimento que a fadiga causam, permitindo uma menor "cobrança" e sensação de culpa.
 

Referência: Julienne E. Bower et al., Management of Fatigue in Adult Survivors of Cancer: ASCO–Society for Integrative Oncology Guideline Update. JCO 0, JCO.24.00541. DOI:10.1200/JCO.24.00541