Identificar fatores de risco para a doença pulmonar intersticial (DPI) tem importância fundamental para adequar a terapia com trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) no câncer de mama. Diretrizes de conduta publicadas pela Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) se propõem a fornecer orientação clínica multidisciplinar atualizada e uma abordagem estruturada passo a passo para o monitoramento proativo, diagnóstico precoce e manejo eficaz da DPI associada a T-DXd.
T-DXd alterou o cenário do tratamento em pacientes com câncer de mama, independentemente do status do receptor hormonal (HR). A doença pulmonar intersticial relacionada a T-DXd pode ser grave e potencialmente fatal, mas a maioria dos casos de baixo grau pode ser tratada com segurança, usando uma abordagem multidisciplinar que compreende diagnóstico precoce e preciso, manejo eficaz, monitoramento rigoroso e administração imediata de esteroides.
Para diagnosticar DPI associada ao tratamento com T-DXd, os critérios atuais incluem a identificação de novas opacidades pulmonares, uma relação temporal com o início da medicação e a exclusão de outras causas de DPI. “É importante que tanto os pacientes como os profissionais de saúde estejam cientes de que os sintomas podem ser inespecíficos e apresentar-se de forma lenta ou aguda”, alertam os autores.
A diretriz de conduta da ESMO observa que ainda não está claro se fatores de risco específicos realmente contribuem para um risco maior de desenvolver DPI de alto grau durante o tratamento com T-DXd, como etnia japonesa, apresentação inicial aguda e grave da doença, DPI pré-existente ou outras doenças pulmonares, hipoxemia, necessidade de ventilação mecânica, idade avançada, dose de T-DXd superior a 5,4 mg/kg, moderada /insuficiência renal grave no início do estudo, histórico de tabagismo, uso de medicamentos associados à alta mortalidade relacionada à DPI, câncer de pulmão de células não pequenas, pneumonectomia unilateral, doenças reumatológicas ou autoimunes subjacentes, irradiação torácica e DPI pré-existente.
Para a prevenção e gestão da DPI, a diretriz destaca estratégias fundamentais, resumidas nas cinco regras ‘S’, que incluem screening (triagem), exame, sinergia, suspensão do tratamento e esteroides. Dados de ensaios clínicos mostram que as regras 'S' ajudam a melhorar os resultados dos pacientes, reduzindo a gravidade da DPI e resultados fatais. Outro aspecto fundamental é aumentar a educação do paciente, para garantir muita atenção aos seus sintomas.
Wekking e colegas ainda ilustram recomendações práticas, esclarecendo, por exemplo, que a DPI grau 4 pode aparecer como opacidades bilaterais difusas em vidro fosco, consolidação parenquimatosa local ou espessamento interlobular. Nos casos de DPI sintomática, os autores recomendam a interrupção imediata do tratamento com T-DXd. A reintrodução da medicação pode ser considerada em pacientes assintomáticos, somente após resolução completa, com reduções de dose, se necessário.
Para a abordagem multidisciplinar, a diretriz preconiza o envolvimento de médicos oncologistas, enfermeiros especialistas, pneumologistas, cirurgiões torácicos, patologistas, especialistas em doenças infecciosas e radiologistas.
A íntegra do guideline da ESMO está disponível em acesso aberto.
Referência: Published: November 09, 2023. DOI: https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2023.102043