Revisão sistemática e meta-análise incluiu dados de mais de 2 milhões de mulheres com câncer de mama em 81 países e demonstrou proporções mais altas de câncer de mama metastático ao diagnóstico observadas em países de baixa e média renda, em grupos de idade mais avançada e menos favorecidos economicamente. O estudo tem participação da brasileira Allini Mafra da Costa (foto), pesquisadora da International Agency for Research on Cancer (IARC) e do Luxembourg Institute of Health (LIH).
O estágio no diagnóstico é um fator prognóstico chave para a sobrevida do câncer. Nesse estudo, os pesquisadores utilizaram dados de base populacional para avaliar a distribuição global do estágio do câncer de mama ao diagnóstico por país, grupo etário e status socioeconômico.
Foi realizada uma pesquisa sistemática nas bases de dados MEDLINE e Web of Science e em sites de registros e literatura cinzenta para artigos ou relatórios publicados entre 1º de janeiro de 2000 e 20 de junho de 2022. Relatórios de seleção de estudos sobre o estágio no diagnóstico para indivíduos com câncer de mama primário (C50) de um registro de câncer de base populacional foram incluídos.
As características e os resultados dos estudos elegíveis foram extraídos independentemente por 2 pares de revisores. As proporções específicas do estágio foram extraídas e a qualidade dos dados de registro de câncer e o risco de viés foram avaliados. As estimativas nacionais agrupadas foram calculadas para conjuntos de dados subnacionais ou anuais utilizando uma regra hierárquica dos dados mais relevantes e de alta qualidade para evitar duplicações.
O desfecho principal foi a proporção de mulheres com câncer de mama por grupo de estágio (Classificação TNM de Tumores Malignos ou Programa de Vigilância, Epidemiologia e Resultados Finais [SEER]).
Resultados
Os dados estavam disponíveis para 2,4 milhões de mulheres com câncer de mama de 81 países. Globalmente, a proporção de casos com metástase à distância no momento do diagnóstico foi elevada na África Subsariana, variando entre 5,6% e 30,6%, e baixa na América do Norte, variando entre 0,0% e 6,0%. A proporção de pacientes diagnosticados com doença metastática à distância diminuiu nas últimas 2 décadas, de cerca de 3,8% a 35,8% (início de 2000) para 3,2% para 11,6% (de 2015 em diante), mas também foram observadas estabilidade ou ligeiros aumentos.
Idade mais avançada e nível socioeconômico mais baixo tiveram a maior proporção de casos diagnosticados com estágio metastático à distância, variando de 2,0% a 15,7% entre os mais jovens, de 4,1% a 33,9% entre a faixa etária mais avançada; de 1,7% a 8,3% no grupo menos desfavorecido socioeconomicamente e 2,8% a 11,4% nos grupos mais desfavorecidos.
Em síntese, políticas e intervenções eficazes resultaram na diminuição da proporção de mulheres diagnosticadas com câncer de mama metastático no momento do diagnóstico em países de alta renda, mas a desigualdade persiste, o que precisa de ser abordado através de uma maior conscientização sobre os sintomas da doença e detecção precoce. “Melhorar a cobertura global e a qualidade dos registos de câncer de base populacional, incluindo a coleta de dados padronizados sobre o estadiamento, é fundamental para monitorizar o progresso”, concluíram os autores.
Referência: Benitez Fuentes JD, Morgan E, de Luna Aguilar A, et al. Global Stage Distribution of Breast Cancer at Diagnosis: A Systematic Review and Meta-Analysis. JAMA Oncol. Published online November 09, 2023. doi:10.1001/jamaoncol.2023.4837
