Onconews - Disparidades raciais e diretrizes de cuidados do câncer colorretal de início precoce nos EUA

leticia nogueiraA brasileira Letícia Nogueira (foto), diretora de Pesquisa em Serviços de Saúde da American Cancer Society, é primeira autora de estudo publicado no Journal of Clinical Oncology (JCO) que demonstrou que pacientes negros diagnosticados com câncer colorretal de início precoce receberam cuidados piores e em tempo menos oportuno em comparação com pacientes brancos.

No estudo, pacientes com idades entre 18 e 49 anos declarados como negros e brancos não hispânicos (auto-identificados) diagnosticados com câncer colorretal entre 2004-2019 foram selecionados do National Cancer Database. Os pacientes que receberam cuidados recomendados (estadiamento, cirurgia, avaliação de linfonodos, quimioterapia e radioterapia) foram considerados como tendo recebido cuidados de acordo com as diretrizes. Odds ratio (OR) foram ajustados para idade e sexo.

O método de decomposição foi utilizado para estimar a contribuição relativa das características demográficas (idade e sexo), comorbidades, seguro saúde e tipo de serviço para a disparidade racial no recebimento de cuidados de acordo com as diretrizes. O método produto-limite foi utilizado para avaliar diferenças no tempo de tratamento entre pacientes negros e brancos.

Resultados

Entre 84.882 pacientes com câncer de cólon e 62.573 pacientes com câncer de reto, 20,8% e 14,5% foram identificados como negros, respectivamente. Indivíduos negros tinham maior probabilidade de não receber cuidados de acordo com as diretrizes para câncer de cólon (OR ajustado [aOR], 1,18 [95% CI, 1,14 a 1,22]) e reto (aOR, 1,27 [95% CI, 1,21 a 1,33]).

O estudo foi conduzido nos EUA, onde não existe um sistema universal de saúde. Portanto, o acesso a seguro saúde explicou 28,2% e 21,6% da disparidade entre pacientes com câncer de cólon e reto, respectivamente. Indivíduos negros apresentaram maior tempo até a quimioterapia adjuvante para câncer de cólon (hazard ratio [HR], 1,28 [95% CI, 1,24 a 1,32]) e quimiorradiação neoadjuvante para câncer de reto (HR, 1,42 [95% CI, 1,37 a 1,47]) em comparação com indivíduos brancos. “

“Vale destacar que pacientes negros não receberam cuidados de acordo com as diretrizes mesmo quando foram tratados em hospitais de qualidade. Para avaliação dos linfonodos, por exemplo, é difícil imaginar um motivo que justifique um paciente que já está na mesa de operação, sob anestesia, em um hospital de qualidade, não receber esse cuidado”, observa Letícia.

Em síntese, pacientes negros com câncer colorretal de início precoce receberam cuidados piores e menos oportunos em comparação com pacientes brancos. “O seguro saúde, um fator modificável, foi o maior contribuinte para as disparidades raciais no recebimento de cuidados de acordo com as diretrizes, demonstrando a importância de criar soluções direcionadas aos determinantes estruturais e sociais da saúde para alcançar a igualdade no tratamento do câncer”, concluíram os autores.

Referência: Nogueira LM, May FP, Yabroff KR, Siegel RL. Racial Disparities in Receipt of Guideline-Concordant Care for Early-Onset Colorectal Cancer in the United States. J Clin Oncol. 2023 Nov 8:JCO2300539. doi: 10.1200/JCO.23.00539. Epub ahead of print. PMID: 37939323.