Revisão publicada no Lancet Oncology discute o efeito do comprometimento renal e hepático na farmacocinética de drogas anticâncer, fornecendo um conjunto prático de recomendações para ajustes de dose de 160 medicamentos antineoplásicos em pacientes com insuficiência hepática ou renal. Neste estudo de revisão, os autores sintetizam em um apêndice informações sobre via metabólica e doses, considerando desde o comprometimento hepático ou renal moderado, até situações mais severas.
A insuficiência hepática é categorizada de acordo com a pontuação de Child-Pugh ou do National Cancer Institute Organ Dysfunction Working Group. O comprometimento renal é definido como uma taxa de filtração glomerular abaixo de 60 mL / min.
Os autores lembram que agentes com maior índice terapêutico ou com grandes variações na resposta individual podem não precisar de ajustes de dose, como é o caso do inibidor de aromatase exemestano. Por outro lado, há medicamentos igualmente excretados nas fezes e na urina, indicando vias que podem compensar o impacto renal.
“Estudo de fase 1 envolvendo pacientes com comprometimento renal leve (taxa de filtração glomerular de 50 a 79 mL/min) e moderado (taxa de filtração glomerular estimada de 30-49 mL/min) não observou diferença estatisticamente significante na exposição a panobinostat em comparação com pacientes com função renal normal”, ilustram os autores.
O alerta vermelho recai sobre os já temidos agentes que excretam metabólitos tóxicos. ”Por esta razão, a ifosfamida não deve ser administrada em pacientes com insuficiência renal”, sublinha o estudo. Acompanhe a seguir a síntese das principais recomendações:
Drogas que requerem ajuste de dose em pacientes em hemodiálise ou com comprometimento renal ou hepático
Amsacrina, trióxido de arsênio, bleomicina, bosutinibe, brentuximabe-vedotina, brigatinibe, bussulfano, capecitabina, carboplatina, carmustina, cisplatina, cladribina, clofarabina, crizotinibe, ciclofosfamida, citarabina (dose alta ≥1 g / m²), dacarbazina, daunorrubicina, decitabina, doxorrubicina, eribulina, etoposídeo, fludarabina, hidroxicarbamida, idarrubicina, ifosfamida, irinotecano, ixazomibe, lenvatinibe, lomustina, melfalano, mercaptopurina, metotrexato, mitomicina, olaparibe, oxaliplatina, pemetrexede, pentostatina, pralatrexato, procarbazina, raltitrexed, ruxolitinibe, sorafenibe, estreptozocina, sunitinibe,tegafur-gimeracil-oteracil, tiotepa, topotecano, treosulfano, vandetanibe e vinflunina.
Para insuficiência hepática discreta ou moderada
Abiraterona, amsacrina, axitinibe, belinostat, bendamustina, binimetinibe, bortezomibe, bosutinibe, brentuximabe-vedotina, brigatinibe, cabazitaxel, cabozantinibe, carfilzomibe,clormetina, cladribina, crizotinibe, dabrafenibe, daunorrubicina, docetaxel, doxorrubicina, doxorubicina lipossomal (Myocet; Teva, Haarlem, Holanda), doxorrubicina lipossomal peguilada (Doxil e Caelyx; Janssen-Cilag International, Beerse, Bélgica), enasidenibe,espirfenibe, epirrubicina, eribulina, erlotinibe, everolimus, flutamida, fulvestranto, gefitinibe,gencitabina, ibrutinibe, idarrubicina, irinotecano, ixabepilona, ixazomibe, mercaptopurina, nintedanibe, nab-paclitaxel, paclitaxel, panobinostat, pazopanibe, ramucirumabe, ribociclibe, romidepsina, ruxolitinib, temsirolimus, tiotepa, tivozanibe, trabectedina, trametinibe, vinflunina e vorinostat.
Para insuficiência hepática grave
Abemaciclibe, alectinibe, anastrozol, trióxido de arsênio, asparaginase, azacitidina, busulfano, carmustina, ceritinibe, clorambucil, clofarabina, ciclofosfamida, citarabina, dacarbazina, dactinomicina, etoposide, fluorouracil, idelalisibe, ifosfamida, lapatinibe, lenvatinibe, letrozol, lomustina, metotrexato, midostaurina, mitomicina, mitotano, mitoxantrona, neratinibe, nilutamida, olaparibe, osimertinibe, palbociclibe, pemetrexede, pixantrona, raltitrexed, regorafenibe, sorafenibe, tamoxifeno, teniposídeo, topotecano, toremifeno, trastuzumabe emtansina, vemurafenibe, vinblastina, vincristina, vincristina liposomal e vinorelbina.
Referências: Krens, S. D., Lassche, G., Jansman, F. G. A., Desar, I. M. E., Lankheet, N. A. G., Burger, D. M., … van Erp, N. P. (2019). Dose recommendations for anticancer drugs in patients with renal or hepatic impairment. The Lancet Oncology, 20(4), e200–e207. doi:10.1016/s1470-2045(19)30145-7