A combinação da vacina BVAC-C e do anti PD-L1 durvalumabe (Imfinzi®) demonstrou atividade antitumoral durável em pacientes com câncer cervical que progrediram à quimioterapia de primeira linha à base de platina, como apontam resultados do estudo de fase II (DURBAC) apresentados no SGO Annual Meeting on Women's Cancer (SGO 2025). “O estudo sugere que essa estratégia pode melhorar as taxas de resposta e o controle da doença, oferecendo uma nova abordagem de tratamento para os pacientes”, destacou Chel Hun Choi, professor de oncologia ginecológica no Samsung Medical Center, principal investigador do estudo.
Neste estudo (NCT04800978), os pesquisadores buscaram avaliar a eficácia e a segurança de uma estratégia envolvendo a vacina terapêutica BVAC-C e o anti PD-L1 durvalumabe em pacientes com câncer cervical recorrente. Foram incluídos pacientes com mais de 20 anos de idade com câncer cervical recorrente ou metastático que progrediram durante ou após quimioterapia de primeira linha baseada em platina, com ou sem bevacizumabe. Foram elegíveis pacientes com doença positiva para HPV16 ou HPV18, pelo menos 1 lesão mensurável (RECIST 1.1), com bom status de desempenho (ECOG de 0 ou 1) e expectativa de vida maior que 3 meses. Pacientes com histologia de doença neuroendócrina ou carcinoma de pequenas células, carcinomatose peritoneal e/ou histórico de reação alérgica grave aos medicamentos do estudo foram excluídos.
O estudo não randomizado, de braço único, compreendeu uma fase introdutória de segurança e uma fase de eficácia. Na fase de segurança (Fase A), a pesquisa considerou um desenho de escalonamento de dose 3+3 e tratou os pacientes com durvalumabe mais BVAC-C em 1 de 2 doses: 1 x 107 células por dose (dose 1) ou 5 x 107 células por dose (dose 2). Os pacientes receberam terapia combinada por 4 ciclos, seguida por monoterapia com durvalumabe por aproximadamente 21 ciclos. Na parte B, os pacientes foram tratados com monoterapia com BVAC-C na dose escolhida. O endpoint primário foi a taxa de SLP em seis meses. Os desfechos secundários incluíram taxa de resposta global (ORR) em 6 meses, taxa de controle da doença em 6 e 12 meses, taxa de SLP em 12 meses, taxa de sobrevida global (SG) em 12 meses e dados de segurança.
Os resultados apresentados por Choi et al. no SGO 2025 mostram que nos 29 pacientes com eficácia avaliável que receberam pelo menos 1 dose de BVAC-C ou durvalumabe, a taxa de sobrevida livre de progressão (SLP) em 6 meses foi de 52% (IC de 95%, 36%-74%), e a SLP mediana foi de 8,7 meses. A taxa de resposta global (ORR) foi de 38% (IC de 95%, 20%-56%) e incluiu as melhores respostas de resposta completa (RC 17%), resposta parcial (RP 21%), doença estável (DE 24%) e doença progressiva (DP; 38%). A duração mediana da resposta (DOR) foi de 20 meses (intervalo, 9-não disponível).
As taxas de resposta foram maiores em pacientes com doença PD-L1 negativa. Dos pacientes com doença PD-L1 negativa, as respectivas taxas de RC, RP, DE e DP foram de 25%, 50%, 0% e 25%. Em pacientes com doença PD-L1 positiva, essas taxas foram de 18%, 9%, 36% e 36%, respectivamente.
Taxas de resposta mais altas também foram observadas entre pacientes com carcinoma de células escamosas vs histologia de adenocarcinoma/carcinoma escamoso. Entre pacientes com histologia de carcinoma de células escamosas, as respectivas taxas de RC, RP, DE e DP foram de 22%, 28%, 11% e 39%. Em pacientes com histologia de adenocarcinoma/carcinoma escamoso as taxas foram de 9%, 9%, 46% e 36%, respectivamente.
Entre os pacientes com intervalo sem tratamento superior a 6 meses, as taxas de RC, RP, DE e DP foram de 29%, 24%, 29% e 18%, respectivamente. Em pacientes com intervalo de tratamento menor, de até 6 meses, as taxas foram de 0%, 17%, 17% e 67%, respectivamente. Pacientes sem tratamento por mais de 6 meses tiveram melhores resultados de SLP e SG em comparação com aqueles com intervalo sem tratamento de 6 meses ou menos.
“Nossos achados destacam o potencial de combinar uma vacina terapêutica contra o HPV com a inibição do checkpoint imunológico para aumentar as respostas imunes antitumorais no câncer cervical recorrente ou metastático”, concluem os autores.
BVAC-C mostrou perfil de segurança manejável. Os eventos adversos (Eas) mais comuns incluíram febre (grau 1, 63,3%; grau 2, 13,3%; grau 3, 0%), disfunção tireoidiana (26,7%; 0%; 0%), erupção cutânea (16,7%; 0%; 3,3%), dor de cabeça (16,7%; 3,3%; 0%), fadiga (16,7%; 0%; 0%), constipação (13,3%; 6,6%; 3,3%), dispepsia (10,0%; 3,3%; 0%), diarreia (6,7%; 6,6%; 0%), tosse (6,7%; 3,3%; 0%), dor nas costas (6,7%; 0%; 3,3%), desconforto no peito (6,6%; 0%; 3,3%), tontura (6,6%; 0%; 0%), dispneia (3,3%; 3,3%; 0%), insônia (3,3%; 3,3%; 0%), vômitos (3,3%; 0%; 0%), íleo paralítico (3,3%; 0%; 0%), urticária (3,3%; 0%; 0%), artralgia (3,3%; 0%; 0%), mialgia (3,3%; 0%; 0%), conjuntivite (3,3%; 0%; 0%), síndrome de liberação de citocinas (3,3%; 0%; 0%), herpes zoster (3,3%; 0%; 0%), anorexia (0%; 3,3%; 0%), níveis elevados de marcadores cardíacos (0%; 0%; 3,3%) e aumento dos níveis de creatinina no sangue (0%; 0%; 3,3%).
Referência:
SGO 2025 (Late-Breaking, Oral, Poster) - 938773 - Combination of BVAC-C and Durvalumab in recurrent or metastatic cervical cancer: A phase II study