Aspectos relacionados à anatomia e à dose de radioterapia podem ajudar os médicos a prever o risco do paciente de câncer de próstata sofrer sangramento retal como um efeito colateral da terapia, e planejar um tratamento sob medida para evitar o problema. É o que sugere um grande estudo apresentado na 57ª Reunião Anual da Associação Americana de Física Médica (AAPM).
Ao menos um a cada dez homens que recebem radioterapia para câncer de próstata sofre de sangramento retal, que pode ocorrer meses após o tratamento. Apesar de não representar uma ameaça à vida, o sangramento retal é doloroso, desconfortável e inconveniente.
"Sangramento retal após radioterapia do câncer de próstata é um tema muito importante na nossa prática diária. Existem muitos artigos correlacionando risco de sangramento retal com dose aplicada ao reto e a partir disto já está razoavelmente bem estabelecido quais são os limites de dose que podem ser aplicados sem maior probabilidade de sangramento retal após o tratamento", afirma o radioterapeuta Eduardo Weltman, presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT).
No estudo, uma colaboração entre cinco instituições, os pesquisadores analisaram 1.001 homens que receberam vários tipos de radioterapia para câncer de próstata. O estudo descobriu que pacientes correm um risco maior de desenvolver sangramento retal se o volume do reto foi exposto de uma dose de radiação média para uma dose elevada (P<0,03) e se os pacientes tinham um reto menor e mais curto (P<0,001). A probabilidade de hemorragia pode ser prevista utilizando uma fórmula matemática durante o planejamento do tratamento para minimizar o risco.
"Ao reduzir a dose para a borda da área a ser irradiada em homens com retos mais curtos, possivelmente usando um melhor tratamento de orientação de imagem, podemos reduzir significativamente o risco de sangramento retal", disse Joseph Deasy, chefe do Departamento de Física Médica do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York. "Esta fórmula tem o potencial de ser colocada em prática nos sistemas de planejamento de tratamento que são usados rotineiramente", afirmou.
Deasy acrescentou que 45 Gy foi uma dose média (com 70-80 Gy sendo uma alta dose), e o fato de que mesmo uma dose média de radiação seria um fator de risco para sangramento retal tardio foi uma nova descoberta."Pensava-se que somente as doses muito altas aumentavam o risco para esta complicação”, disse.
Para Weltman, o fato deles terem analisado 1.010 pacientes é muito importante, mas a fórmula gerada seria talvez mais um parâmetro a ser observado no planejamento. "Certamente não mudaria minha prática diária, que está muito bem sedimentada a partir da literatura a respeito e dos dados do QUANTEC (Quantitative Analyses of Normal Tissues Effects in the Clinic)", diz.
Segundo o especialista, um ponto falho do estudo é não valorizar a radioterapia de intensidade modulada (IMRT), por considerá-la um novo método de radioterapia nos Estados Unidos. "Isso não é verdade, uma vez que já está disponível há cerca de 20 anos".