Huang et al. revisam os principais estudos sobre o papel da microbiota na modulação da eficácia e toxicidade de drogas anticâncer. “Nesta revisão, analisamos o conhecimento atual das interações entre microrganismos intestinais e respostas do hospedeiro a terapias anticâncer”, destacam os autores, em uma análise que considera quimioterapias citotóxicas, imuno-oncológicos e terapias-alvo. “Além disso, propomos várias estratégias de modulação da microbiota, incluindo transplante de microbiota fecal e probióticos, para otimizar o uso e o desenvolvimento de tratamentos anticâncer”, propõem os autores, confiantes na importância do microbioma humano como um alvo promissor para a oncologia de precisão.
Ao longo da última década, evidências crescentes revelaram os principais papéis da microbiota intestinal na modulação da eficácia e toxicidade de drogas anticâncer. Como resultado, a microbiota humana passou a representar uma perspectiva interessante para o desenvolvimento de biomarcadores capazes de prever os resultados do tratamento e até de abordagens intervencionistas para melhorar os efeitos terapêuticos, analisam Huang e colegas.
As perspectivas são animadoras, mas sobram questões sem resposta.
Certas espécies bacterianas exerceram efeitos opostos na modulação da eficácia de diferentes drogas. É o caso de cepas de Fusobacterium nucleatum, que foram reconhecidas como patobiontes envolvidas na progressão do câncer colorretal, podem diminuir a eficácia do 5-FU, mas promovem a eficácia do bloqueio de PD-L1, ilustra a revisão.
Entender os benefícios e riscos é outra necessidade fundamental antes de aplicar intervenções com certas espécies microbianas. “Além disso, a mesma intervenção de manipulação da microbiota (por exemplo, transplante fecal ou probióticos) pode resultar em respostas heterogêneas entre várias populações”, descreve a análise.
Outras questões pendentes para pesquisas futuras incluem, além das abordagens moduladoras da microbiota, também a descoberta de biomarcadores baseados no microbioma para prever as respostas aos medicamentos. “A maior compreensão das interações entre microbiota, respostas do hospedeiro e drogas anticancerígenas levará a terapias mais precisas, personalizadas e otimizadas para pacientes com câncer”, sustentam os autores. A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto, na eBioMedicine, do Lancet Discovery Science.
O câncer é uma grande carga de saúde pública e uma das principais causas de morte em todo o mundo. São cerca de 19,3 milhões de casos de câncer diagnosticados por ano, com mais de 9,9 milhões de mortes.
Referências: Huang J, Liu W, Kang W, He Y, Yang R, Mou X, Zhao W. Effects of microbiota on anticancer drugs: Current knowledge and potential applications. EBioMedicine. 2022 Sep;83:104197. doi: 10.1016/j.ebiom.2022.104197. Epub 2022 Aug 4. PMID: 35933808; PMCID: PMC9358415.