No ensaio clínico randomizado de Fase II ENACT, o tratamento com enzalutamida em monoterapia reduziu significativamente o risco de progressão do câncer de próstata e a progressão do PSA versus vigilância ativa em pacientes com câncer de próstata localizado de baixo risco ou risco intermediário. Os pacientes que receberam enzalutamida também tiveram melhora significativa nas possibilidades de um resultado de biópsia negativo, bem como reduções significativas nos núcleos positivos para câncer e no aumento secundário nos níveis séricos de PSA em 1 ano em comparação com a vigilância ativa. Quem analisa os resultados é o oncologista Eduardo Zucca (foto).
Este estudo clínico (ENACT) randomizado de Fase II foi realizado de junho de 2016 a agosto de 2020 em 66 locais nos EUA e Canadá. Os pacientes elegíveis tinham 18 anos ou mais, com diagnóstico de câncer de próstata localizado de baixo risco ou risco intermediário, submetidos à vigilância dentro de 6 meses do rastreamento. Os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para enzalutamida, 160 mg, em monoterapia por 1 ano, ou vigilância ativa, estratificados por risco e tipo de biópsia de acompanhamento. Os pacientes foram monitorados durante 1 ano de tratamento e até 2 anos de acompanhamento.
O endpoint primário foi o tempo para progressão patológica ou terapêutica do câncer de próstata (patológico, ≥1 aumento no padrão de Gleason primário ou secundário ou ≥15% de aumento de núcleos positivos para câncer; terapêutico, ocorrência mais precoce de terapia primária para câncer de próstata). Os endpoints secundários incluíram a incidência de um resultado de biópsia negativo, o percentual de núcleos positivos para câncer e a incidência de um aumento secundário nos níveis séricos de antígeno prostático específico (PSA) em 1 e 2 anos, além do tempo de progressão do PSA. Os eventos adversos foram monitorados para avaliar a segurança.
Os resultados mostram que 114 pacientes foram randomizados para tratamento com enzalutamida mais vigilância ativa e 113 para vigilância ativa exclusiva. As características basais foram semelhantes entre os braços (idade média de 66,1 anos, 1 asiático [0,4%], 21 negros ou afro-americanos [9,3%], 1 hispânico [0,4%] e 204 brancos [89,9%]). O tratamento com enzalutamida reduziu significativamente o risco de progressão do câncer de próstata em 46% vs vigilância ativa (razão de risco, 0,54; IC 95%, 0,33-0,89; P = ,02).
Na comparação com vigilância ativa, as chances de uma biópsia negativa foram 3,5 vezes maiores entre os homens tratados com enzalutamida. O tratamento ativo também promoveu redução significativa nos núcleos positivos para câncer e reduziu o risco de aumento secundário nos níveis séricos de PSA em 1 ano. Nenhuma diferença significativa foi observada em 2 anos. O tratamento com enzalutamida também atrasou significativamente a progressão do PSA em 6 meses vs AS (razão de risco, 0,71; IC 95%, 0,53-0,97; P = ,03).
Os eventos adversos mais frequentes durante o tratamento com enzalutamida foram fadiga (62 [55,4%]) e ginecomastia (41 [36,6%]).
“Os resultados deste ensaio clínico randomizado sugerem que a monoterapia com enzalutamida foi bem tolerada e demonstrou resposta significativa ao tratamento em pacientes com câncer de próstata localizado de baixo risco ou risco intermediário. Enzalutamida pode fornecer uma opção de tratamento alternativo para pacientes submetidos à vigilância ativa”, concluem os autores.
Para o oncologista Eduardo Zucca, diretor de ensino e pesquisa do Instituto do Câncer Brasil, o estudo é extremamente interessante, mas alguns pontos devem ser levados em consideração. "É um estudo fase II que avaliou o tempo para progressão patológica e terapêutica da próstata. Foi observado uma redução na incidência no primeiro ano, mas no segundo ano não teve diferença significativa, ou seja, quando se parou a medicação, porque a enzalutamida era feita apenas por um ano, não se observou mais essa diferença", observa.
"É um estudo que gera algumas hipóteses, mas que ainda não altera ainda a prática clinica dos pacientes que fazem vigilância ativa. Talvez esses pacientes devam ser observados com maior proximidade. Por exemplo, 30% dos pacientes que receberam enzalutamida tiveram ginecomastia, e os autores não comentam se foi ou não reversível depois que interrompeu o uso de enzalutamida. Além disso, mais de metade dos pacientes que fizeram uso de enzalutamida apresentaram uma fadiga importante. É um estudo interessante, que gera várias hipóteses, investigações que devem ser continuadas, mas ainda é precoce indicar o tratamento para pacientes que optam por vigilância ativa", conclui.
Este estudo está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT02799745.
Referência: Shore ND, Renzulli J, Fleshner NE, et al. Active Surveillance Plus Enzalutamide Monotherapy vs Active Surveillance Alone in Patients With Low-risk or Intermediate-risk Localized Prostate Cancer: The ENACT Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. Published online June 16, 2022. doi:10.1001/jamaoncol.2022.1641