Qual a eficácia comparativa entre diferentes métodos de tratamento para neoplasia intraepitelial cervical (NIC) e morbidade reprodutiva? Estudo de revisão sistemática e meta-análise que buscou determinar os riscos de falha do tratamento e parto prematuro associados a diferentes técnicas reforça que a escolha do tratamento deve depender da idade da mulher, tamanho e localização da lesão, assim como deve considerar o planejamento familiar futuro.
Nesta meta-análise os pesquisadores revisaram sistematicamente as bases do MEDLINE, Embase e da Cochrane Central Register of Controlled Trials para estudos randomizados e não randomizados relatando resultados oncológicos ou reprodutivos após tratamentos de NIC. A análise considerou dados desde o início do banco de dados até 9 de março de 2022, sem restrições de idioma. Foram incluídos estudos de mulheres com NIC, neoplasia intraepitelial glandular ou câncer do colo do útero em estágio IA1 tratadas com excisão (conização a frio [CKC], conização a laser e excisão de grande alça da zona de transformação [LLETZ]) ou ablação (diatermia radical, ablação a laser, coagulação a frio e crioterapia). Mulheres tratadas com histerectomia foram excluídas da análise. Os endpoints primários foram qualquer falha no tratamento (definida como qualquer histologia ou citologia anormal) e parto prematuro (<37 semanas de gestação).
Resultados
Os autores descrevem que foram encontradas 7.880 citações potenciais para o endpoint de falha do tratamento e 4.107 para o endpoint de parto prematuro. Após triagem e remoção de duplicidades, a falha de tratamento incluiu 19 240 participantes em 71 estudos (25 randomizados) e os dados de parto prematuro compreenderam 68 817 participantes em 29 estudos (dois randomizados). Na comparação com LLETZ, o risco de falha do tratamento foi reduzido para outros métodos de excisão (conização a laser: OR 0,59 [IC 95% 0,44–0,79] e CKC: 0,63 [0,50–0,81]), mas foi aumentado para ablação a laser (1,69 [1,27–2,24]) e crioterapia (1,84 [1,33–2,56]). Não foram encontradas diferenças para a comparação da coagulação a frio versus LLETZ (1,09 [0,68–1,74]), mas os dados comparativos foram baseados apenas em dois pequenos estudos.
Em relação ao grupo de colposcopia não tratada, o risco de parto prematuro foi aumentado para todas as técnicas de excisão (CKC: 2,27 [1,70–3,02]; conização a laser: 1,77 [1,29–2,43]; e LLETZ: 1,37 [1,16–1,62]), enquanto não foram encontradas diferenças para métodos ablativos (ablação a laser: 1,05 [0,78–1,41]; crioterapia: 1,01 [0,35] –2·92]; e coagulação a frio: 0,67 [0·02–29·15]). No entanto, o artigo ressalva que a evidência foi baseada principalmente em estudos observacionais com seus riscos inerentes de viés e a credibilidade de muitas comparações foi baixa.
“Técnicas de excisão mais radicais reduzem o risco de falha do tratamento, mas aumentam o risco de parto prematuro subsequente. Embora haja incerteza, os tratamentos ablativos provavelmente não aumentam o risco de parto prematuro, mas estão associados a maiores taxas de falha do que as técnicas excisionais”, descrevem os autores.” Embora tenhamos identificado que o LLETZ oferece equilíbrio entre eficácia e morbidade reprodutiva, a escolha do tratamento deve depender da idade da mulher, tamanho e localização da lesão e planejamento familiar futuro”, concluem.
Referência: Comparative effectiveness and risk of preterm birth of local treatments for cervical intraepithelial neoplasia and stage IA1 cervical cancer: a systematic review and network meta-analysis - Antonios Athanasiou, MBBS; Areti Angeliki Veroniki, PhD; Orestis Efthimiou, PhD; Ilkka Kalliala, PhD; Huseyin Naci, PhD; Sarah Bowden, MBBS; et al. - DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(22)00334-5 - Published: July 11, 2022