Estudo publicado em janeiro na revista Cancer1 discute o diagnóstico e manejo das reações endócrinas imunomediadas associadas ao uso de inibidores de checkpoint imune. O estudo tem como primeiro autor o oncologista brasileiro Romualdo Barroso-Sousa (foto), do Dana Farber Cancer Institute (DFCI).
Com o aumento do uso de inibidores de checkpoint imune (ICI) na prática clínica, cresce também a incidência de patologias endócrinas imuno-relacionadas, desafiando a comunidade médica a redobrar a atenção com o diagnóstico e gerenciamento desses eventos, potencialmente fatais. É nesse contexto que o estudo de revisão publicado com participação brasileira tem o objetivo de fornecer recomendações práticas para a avaliação adequada, gerenciamento clínico e acompanhamento de endocrinopatias após o uso de ICIs em pacientes com câncer.
Os autores abordam os distúrbios da tireoide, hipofisite, adrenalite autoimune e diabetes autoimune, com descrição de algoritmos que contribuem para a avaliação e o monitoramento dos pacientes.
“O risco de disfunção endócrina difere após o uso de diferentes regimes de ICI, com uma incidência significativamente maior entre aqueles tratados com terapias de combinação em relação aos que receberam agente único”, escrevem os autores, esclarecendo que a incidência de disfunção tireoideana é maior com o uso de anti PD-1, enquanto a incidência de hipofisite é maior com ipilimumabe.
Atualmente, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) aprovou o uso de 6 inibidores de checkpoint imune para o tratamento de vários tipos de tumores sólidos e doenças hematológicas: o anti CTLA-4 ipilimumabe, os anti PD-1 nivolumabe e pembrolizumabe, além dos anti PD-L1 atezolizumabe, durvalumabe e avelumabe.
Para Barroso-Sousa et al, mais estudos são necessários para estabelecer a patogênese dos eventos adversos imunomediados e prever quais pacientes têm um alto risco de desenvolvê-los. ‘Pacientes e clínicos precisam estar cientes de que muitas das endocrinopatias podem não ser reversíveis e precisam ser prontamente reconhecidas e gerenciadas de forma multidisciplinar, exigindo um acompanhamento a longo prazo”, alertam.
Dada a alta incidência e risco de vida de reações de hiper e hopotireoidismo, por exemplo, a recomendação é monitorar os níveis de TSH e fT4 antes de cada infusão de ICI, pelo menos durante os primeiros 5 ciclos de terapia. Os pacientes também devem ser devidamente esclarecidos sobre os sintomas de endocrinopatias imunomediadas.
No caso de hipotireoidismo (baixo fT4) com baixo TSH, a possibilidade de hipotireoidismo central, incluindo hipofisite induzida por ICI, deve ser investigada e a recomendação é uma avaliação completa da hipófise, adrenal e gonadal.
“Esse artigo vem na sequência da nossa meta-análise sobre a incidência de distúrbios endócrinos induzidos por diferentes regimes de inibidores de checkpoint imunológico”, explica Barroso-Sousa. “Agora, achamos importante compartilhar também a experiência do nosso grupo no Dana-Farber e Brigham and Womens Hospital sobre o diagnóstico e manejo desses distúrbios, considerando, sobretudo, que essas drogas começam a fazer parte do dia-a-dia dos oncologistas, mesmo fora de centros acadêmicos”, conclui.
Referência: Barroso-Sousa, Romualdo & Ott, Patrick & Stephen Hodi, F & B. Kaiser, Ursula & M. Tolaney, Sara & Min, Le. (2018). Endocrine dysfunction induced by immune checkpoint inhibitors: Practical recommendations for diagnosis and clinical management: Endocrinopathies Induced by ICIs. Cancer. 10.1002/cncr.31200.