Meta-análise do Early Breast Cancer Trialists' Collaborative Group (EBCTCG) publicada em janeiro no Lancet Oncology (vol.19, nº 1) mostra que a quimioterapia neoadjuvante (QTneo) para câncer de mama inicial torna a cirurgia de conservação da mama mais viável, sem diferença estatística nas taxas de recidiva à distância e mortalidade, mas com recidiva local superior à quimioterapia adjuvante. O oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), Diretor Médico Geral do Centro Oncológico Antonio Ermirio de Moraes da BP, a Beneficiencia Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, comenta o trabalho.
O estudo avaliou dados de 4756 mulheres inscritas em 10 estudos clínicos de 1983 a 2002. Os endpoints primários foram a resposta do tumor, extensão da terapia local, recorrência local e distante, morte por câncer de mama e mortalidade geral. As análises por intenção de tratar usaram regressão padrão (para resposta e frequência da terapia conservadora de mama) e métodos de log-rank (para recorrência e mortalidade).
Resultados
Após um seguimento médio de 9 anos (IQR 5-14), com o último acompanhamento em 2013, os resultados mostraram que mais de dois terços (1349 [69%] de 1947) das mulheres alocadas no braço de QTneo tiveram resposta clínica completa ou parcial. A maioria das quimioterapias foi baseada em antraciclina (3838 [81%] de 4756 mulheres).
A terapia de conservação da mama foi mais frequente nas mulheres tratadas com QTneo em relação às pacientes que receberam quimioterapia adjuvante (65% versus 49%), mas a recidiva local em 15 anos foi de 21,4% para QTneo versus 15,9% para QT adjuvante (aumento de 5,5% [IC 95% 2] 4-8 · 6]: taxa 1 · 37 [IC 95% 1 · 17-1 · 61]; p = 0 · 0001). Não houve diferença significativa entre QTneo e quimioterapia adjuvante para recidiva distante (risco em 15 anos de 38,2% para QTneo vs 38,0% para QT adjuvante; p = 0 · 66), mortalidade por câncer de mama (34 · 4% vs 33 · 7%; 1 · 06 [0 · 95-1 · 18]; p = 0 · 31) ou morte por qualquer causa (40,9 % vs 41 · 2%; 1 · 04 [0 · 94-1 · 15]; p = 0; 45).
Para os autores, os tumores tratados com QTneo podem ter maior recorrência local após terapia de conservação de mama do que os tumores nas mesmas dimensões em mulheres que receberam quimioterapia adjuvante. “Devem ser consideradas estratégias para mitigar o aumento da recorrência local após a terapia de conservação de mama em tumores reduzidos por QTneo, a exemplo da avaliação patológica detalhada e da radioterapia apropriada”, escrevem os autores.
"Este estudo vem corroborar meta-análises anteriores de que o impacto na SG da quimioterapia neoadjuvante é semelhante ao da adjuvância. A maior taxa de reocorrência local decorre em grande parte da maior taxa de preservação da mama (49 vs 65%), um dos objetivos mais importantes da Qtneo. Com o advento dos testes moleculares como OncotypeDx, Mammaprint, BCI e Prosigna que são de suma importancia nos tumores luminais-like, a Qtneo deve ser utilizada nos dias de hoje principalmente nos tumores triplo negativos e HER-2 positivos", afirma o oncologista Antonio Carlos Buzaid, Diretor Médico Geral do Centro Oncológico Antonio Ermirio de Moraes da BP, a Beneficiencia Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
O estudo está disponível em acesso aberto.
Referência: Long-term outcomes for neoadjuvant versus adjuvant chemotherapy in early breast cancer: meta-analysis of individual patient data from ten randomised trials - Asselain, Bernard et al. - The Lancet Oncology , Volume 19 , Issue 1 , 27 – 39