Onconews - Enterocolite grave após CAPOX adjuvante para câncer colorretal

tiago felismino bxTiago Felismino (foto), oncologista do A.C.Camargo Cancer Center e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), é primeiro autor de estudo retrospectivo que analisou os fatores clínicos relacionados à enterocolite grave após CAPOX adjuvante para câncer colorretal. Os resultados foram publicados no ecancermedicalscience.

O regime CAPOX é uma opção padrão no tratamento adjuvante do câncer de cólon estágio III. A toxicidade gastrointestinal é bem descrita com esquemas de fluoropirimidina e pode ser fatal, e a identificação de fatores de risco associados à toxicidade gastrointestinal severa pode ajudar na escolha do regime adjuvante.

"Desde a apresentação dos dados do IDEA, que avaliou a redução do tempo de quimioterapia adjuvante em câncer colorretal de 6 para 3 meses, passamos a usar em maior escala CAPOX por 3 meses. Notamos, em nossa instituição, que apesar da redução de algumas toxicidades, como neuropatia periférica, houve um aumento importante na incidência de toxicidade gastrintestinal. Esta toxicidade, em alguns casos, foi grave. Alguns pacientes foram admitidos no hospital com quadro de enterocolite, com necessidade de uso de antibióticos de largo espectro e nutrição parenteral", esclarece Felismino.

No estudo, foram analisados retrospectivamente 61 pacientes tratados com CAPOX adjuvante no A.C.Camargo Cancer Center entre novembro de 2016 e setembro de 2018. O objetivo principal foi estimar a incidência de enterocolite severa induzida por quimioterapia entre pacientes tratados com CAPOX. O objetivo secundário foi descrever as principais características demográficas e clínicas desses pacientes.

Resultados

Diarreia grau 3 foi relatada em 10 pacientes (16,3%). Internações hospitalares por toxicidade ocorreram em nove casos. Os motivos da internação foram enterocolite severa em oito casos (13,1%) e sangramento retal mais trombocitopenia em um caso. Idade> 70 anos (OR 9,6; 95% CI 1,81–50,6; p = 0,008), cirurgia primária envolvendo cólon direito/transverso (OR 16,8; 95% CI 2,88–98,8; p = 0,002) e uso de bloqueador de receptores da angiotensina II (ARB) (OR 8,14; 95% CI 1,64-40,3; p = 0,010) foram associados a enterocolite grave.

Os dados mostraram que o CAPOX adjuvante induziu enterocolite grave em 13,1% dos pacientes. Além disso, idade avançada, colectomia direita e uso concomitante de bloqueador de receptores da angiotensina foram estatisticamente associados a esses eventos. 

"Nesta publicação compilamos as principais características destes pacientes, bem como o quadro clínico. Apesar do número pequeno da amostra, os dados sugerem que há maior risco deste evento em pacientes idosos e submetidos à colectomia direita. Há ainda um dado gerador de hipótese que associa o uso de anti-hipertensivos da classe dos inibidores do receptor de angiotensina com este evento adverso. Acreditamos que estas informações podem ajudar os oncologistas clínicos a antecipar possíveis efeitos colaterais em subpopulações específicas", conclui o especialista.

Referência: Clinical factors related to severe enterocolitis after adjuvant CAPOX for colorectal cancer: a retrospective analysis - Tiago Cordeiro Felismino, Victor Hugo Fonseca de Jesus, Bruno Cezar de Mendonça Uchóa Junior, Francisca Giselle Rocha Moura, Rachel P. Riechelmann, Samuel Aguiar Junior and Celso Abdon Lopes de Mello - https://doi.org/10.3332/ecancer.2020.1014