DIOGO BASTOS LACOG GU NEW NET OKSweeney et al reportaram no Lancet Oncology dados da primeira análise de sobrevida global planejada do ensaio ENZAMET, com o objetivo de definir o benefício do tratamento com enzalutamida em diferentes subgrupos prognósticos no câncer de próstata (doença síncrona e metacrônica de alto ou baixo volume) e naqueles que receberam docetaxel concomitantemente. Os resultados mostram que a adição de enzalutamida ao padrão de tratamento mostrou melhora sustentada na sobrevida global para pacientes com câncer de próstata metastático hormônio sensível e deve ser considerada como opção de tratamento. "A atualização do estudo ENZAMET com os dados de 5 anos ratifica a adição de enzalutamida como tratamento padrão para pacientes com câncer de próstata metastático sensível à castração", afirma o oncologista Diogo Bastos (foto).

Neste ensaio internacional, aberto, randomizado, de fase 3 (ENZAMET) foram elegíveis homens adultos (≥18 anos) com adenocarcinoma de próstata metastático sensível a hormônios evidente na TC ou cintilografia óssea com 99mTc, com status de desempenho do Eastern Cooperative Oncology Group de 0–2. Os participantes foram randomizados (1:1), estratificados por volume de doença, uso planejado de docetaxel concomitante, terapia óssea, comorbidades e local do estudo, para receber supressão de testosterona mais enzalutamida oral (160 mg uma vez por dia) ou antiandrogênio oral padrão (bicalutamida, nilutamida ou flutamida; grupo controle) até a progressão clínica da doença ou toxicidade proibitiva. A supressão da testosterona foi permitida até 12 semanas antes da randomização e por até 24 meses como terapia adjuvante.

Docetaxel concomitante (75 mg/m2 por via intravenosa) foi permitido por até seis ciclos uma vez a cada 3 semanas, a critério dos participantes e médicos. O endpoint primário foi a sobrevida global na população com intenção de tratar e a análise planejada previa a ocorrência de 470 óbitos.

Os autores descrevem que entre 31 de março de 2014 e 24 de março de 2017, foram randomizados 1.125 participantes para receber antiandrogênico não esteroide (n=562; grupo controle) ou enzalutamida (n=563). A idade média foi de 69 anos (IQR 63-74) e o status de sobrevida atualizado identificou um total de 476 (42%) mortes.

Após um acompanhamento médio de 68 meses (IQR 67–69), a sobrevida global mediana não foi alcançada (razão de risco 0,70 [95% CI 0,58–0,84]; p<0,0001), com SG em 5 anos de 57% (0·53–0·61) no grupo controle e de 67% (0·63–0·70) no grupo tratado com enzalutamida. O benefício de sobrevida global com enzalutamida foi consistente nos diferentes subgrupos prognósticos predefinidos.

Em relação ao perfil de segurança, os eventos adversos de grau 3-4 mais comuns foram neutropenia febril associada ao uso de docetaxel (33 [6%] de 558 no grupo controle vs 37 [6%] de 563 no grupo enzalutamida), fadiga (quatro [1%] vs 33 [6%]) e hipertensão (31 [6%] vs 59 [10%]). A incidência de comprometimento da memória de grau 1–3 foi de 25 (4%) versus 75 (13%). Nenhuma morte foi atribuída ao tratamento do estudo.

“A adição de enzalutamida ao padrão de tratamento mostrou melhora sustentada na sobrevida global para pacientes com câncer de próstata metastático sensível a hormônios e deve ser considerada como uma opção de tratamento para pacientes elegíveis”, destacam os autores.

Bastos observa que o estudo incluiu mais de mil homens com câncer de próstata sensível à castração, metastático ao diagnóstico, e cerca de metade desses pacientes tinham doença de alto volume. "O dado que me chama mais atenção nessa análise é que a mediana de sobrevida global em 5 anos não foi atingida. No grupo que recebeu a enzalutamida, 67% dos pacientes estavam vivos em 5 anos. De fato, esse é um dado muito robusto mostrando que realmente os pacientes com câncer de próstata hoje tem um cenário de tratamento muito eficaz, com controle de doença realmente de muito longo prazo, e um tratamento no geral bem tolerado e com excelente qualidade de vida", diz.

"Esse estudo ratifica a adição de enzalutamida ao ADT como terapia padrão sólida, junto com outros tratamentos já disponíveis como apalutamida, abiraterona, e eventualmente a discussão de terapia tripla com a associação de quimioterapia, que tem se mostrado benéfica em alguns subgrupos, especialmente em pacientes com alto volume de doença", conclui.

Este estudo está registrado nas plataformas ClinicalTrials.gov (NCT02446405), ANZCTR (ACTRN12614000110684) e EudraCT (2014-003190-42) e tem financiamento da Astellas Pharma.

Referência: Prof Christopher J Sweeney, MBBS, Prof Andrew J Martin, PhD, Prof Martin R Stockler, MBBS MSc, Stephen Begbie, MBBS FRACP, Leanna Cheung, PhD, Prof Kim N Chi, MD et al. Testosterone suppression plus enzalutamide versus testosterone suppression plus standard antiandrogen therapy for metastatic hormone-sensitive prostate cancer (ENZAMET): an international, open-label, randomised, phase 3 trial. Published: April, 2023 DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(23)00063-3