Arnon P. Kater (foto), do Amsterdam UMC Cancer Center, apresentou no EHA 2024 os primeiros dados do estudo de fase 1b/2 avaliando epicoritamabe em pacientes com transformação de Richter. Os resultados destacados em sessão oral demonstram que epcoritamabe em monoterapia levou a taxas de resposta encorajadoras, assim como promoveu resposta completa em uma população de pacientes de alto risco. “Esses dados apoiam uma avaliação mais aprofundada de epcoritamabe como opção de tratamento sem quimioterapia para pacientes com RT”, destacou Kater.

A transformação de Richter (RT) é a transformação da leucemia linfocítica crônica (LLC) em um linfoma agressivo, mais comumente linfoma difuso de grandes células B CD20+ (DLBCL). Pacientes com RT têm prognóstico sombrio, e o tratamento prévio de LLC e mutações de TP53 são fatores independentes de mal prognóstico. Com necessidades não atendidas, pacientes com RT carecem de opções eficazes de tratamento e as taxas de resposta completa com quimioimunoterapia são frequentemente ≤20%.

No congresso EHA 2024 foram apresentados dados preliminares do EPCORE™ CLL​1, um ensaio clínico de fase 1b/2 em andamento (NCT04623541), que avalia a segurança e eficácia de epcoritamabe em LLC e RT.

Foram inscritos pacientes adultos com transformação de Richter comprovada por biópsia para DLBCL CD20+ e histórico clínico de LLC ou linfoma linfocítico pequeno com ≤2 linhas anteriores de tratamento para RT. Os pacientes elegíveis receberam epcoritamabe 48 mg em ciclos de 28 dias (QW, C1–3; Q2W, C4–9; Q4W, C≥10), até a progressão da doença. Para mitigar a CRS, aumento da dosagem e profilaxia com corticosteroides foram necessários em C1. A resposta foi avaliada por Lugano usando PET-CT.

Resultados

Em 5 de outubro de 2023 (acompanhamento mediano, 8,1 meses), 35 pacientes com RT receberam epcoritamabe. Características basais selecionadas estão na tabela abaixo. Um total de 91% dos pacientes tinham ≥1 linha de tratamento anterior para LLC ou RT; 49% tinham tratamento  anterior para RT. A maioria dos pacientes (57%) recebeu uma tirosina quinase de Bruton ou inibidor de linfoma de células B  antes da transformação, refletindo o padrão atual para LLC. O tratamento anterior mais comum para RT foi um regime de quimioimunoterapia contendo anticorpo monoclonal anti-CD20, principalmente R-CHOP (em 76% dos pacientes com tratamento anterior). No corte de dados, 13 pacientes (37%) ainda estavam recebendo epcoritamabe.

Os resultados de eficácia são apresentados na tabela. Na população avaliável por resposta (n=26), a taxa de resposta global (ORR) foi de 50%, e a taxa de resposta completa (RC) foi de 35%. Os tempos medianos para resposta e RC foram curtos (1,4 mês e 2,4 meses, respectivamente) e estima-se que 53% dos pacientes com RC permaneceram em RC em 9 meses (75% entre os pacientes com RC sem tratamento anterior para RT).

Em relação à segurança, o evento adverso emergente do tratamento (TEAE) mais comum foi a síndrome de liberação de citocinas (CRS, 80%). Trombocitopenia e anemia foram observadas em 40% dos pacientes cada no início do estudo e em 40% e 34% dos pacientes, respectivamente, durante o estudo por critérios de iwCLL. Os eventos de CRS ocorreram principalmente após a primeira dose completa, e a maioria foi de baixo grau; apenas 1 paciente (3%) teve CRS G3.

Quatro pacientes tiveram eventos neurológicos secundário (ICANS, na sigla em inglês; G1, n=2; G2, n=2); todos os 4 pacientes tiveram CRS concomitante. Síndrome de lise tumoral clínica (CTLS) ocorreu em 3 pacientes (G1–3, n=1 cada). Nenhum evento de CRS, ICANS ou CTLS levou à descontinuação do tratamento. Dois pacientes descontinuaram o tratamento devido a EAs e 3 tiveram TEAEs fatais (deterioração geral da saúde física [n=2] e sepse).

Dados para todos os pacientes (N=42) da coorte totalmente inscrita foram apresentados no EHA 2024 e sugerem a eficácia e segurança de epcoritamabe na população avaliada. “Esta primeira divulgação de dados de uma grande coorte de RT, agora totalmente inscrita, com acompanhamento mais longo, demonstra que epcoritamabe leva a taxas encorajadoras de ORR e RC em uma população de alto risco de pacientes com RT, com taxas de resposta maiores naqueles com RT sem tratamento prévio. A segurança foi tolerável e consistente com relatórios anteriores e  a maioria dos CRS foi de baixo grau, sem novos sinais de segurança.

Esforços para mitigar ainda mais a CRS com otimização de C1, incluindo uma dose adicional de aumento de epcoritamab, estão em andamento.

Epcoritamabe é um anticorpo biespecífico CD3xCD20 subcutâneo aprovado para tratamento de adultos com diferentes subtipos de linfoma de grandes células B recidivado ou refratário após ≥2 linhas de tratamento sistêmico.

Table. Baseline characteristics and efficacy

Baseline characteristics

Total

N=35

Median age, y (range)

69 (50-80)

TP53 aberrations, n (%)

17 (49)

Ann Arbor stage IV disease, n (%)

19 (54)

Prior tx for CLL, n (%)

24 (69)

Prior tx for RT, n (%)

17 (49)

Median time from RT diagnosis to first epcoritamab dose, mo (range)

2.7 (0.4-86.5)

Efficacy, n (%)

Response evaluablea

n=26

Pts previously untreated for RTa

n=13

ORR

13 (50)

8 (62)

CR rate

9 (35)

7 (54)

PR rate

4 (15)

1 (8)

Progression-free survival

9-mo estimate, %

Responders (n=13)

64

Complete responders (n=9)

89

aPts who received ≥1 full dose of epcoritamab and had ≥1 postbaseline disease evaluation or died within 60 days of receiving their first dose. CLL, chronic lymphocytic leukemia; CR, complete response; ORR, overall response rate; PR, partial response; pt, patient; RT, Richter's transformation; tx, treatment.

 

A 29ª edição do congresso da European Hematology Association (EHA) foi realizada em Madri, de 13 a 16 de junho.

Referência:
Abstract: S163
SINGLE-AGENT EPCORITAMAB LEADS TO DEEP RESPONSES IN PATIENTS (PTS) WITH RICHTER’S TRANSFORMATION (RT): PRIMARY RESULTS FROM THE EPCORE CLL-1 TRIAL